O domingo de Páscoa foi de garimpagem em uma das mais tradicionais ruas do bairro Bom Fim, em Porto Alegre. O público que caminhava curioso pela João Telles, porém, não estava atrás de ovos de chocolate, mas sim de roupas e acessórios. Com o céu nublado e a temperatura amena, a tarde foi perfeita para circular pelo Brick de Desapegos atrás de peças para a meia-estação.
A estudante Alexandra da Silva Alves, 17 anos, saiu com uma sacola cheia. Após percorrer com olhar atento as araras dispostas na rua, Alexandra comprou dois casacos e três saias. Sempre que pode, ela evita lojas de shopping ou grifes consagradas, preferindo abastecer o guarda-roupa com peças de brechós.
— É uma opção mais barata e muito mais ecológica de se comprar roupas de qualidade. Estou muito satisfeita — afirmou.
Criado em 2011, o Brick de Desapegos ocupa o trecho entre a Rua Henrique Dias e a Avenida Osvaldo Aranha sempre no terceiro domingo do mês. A iniciativa surgiu de uma necessidade de a publicitária Natália Guasso desocupar o próprio closet para uma mudança. Auxiliada por algumas amigas, ela montou um brique para vender roupas que não usava mais. O sucesso foi tanto que se transformou num evento com mais de 350 edições e que agrega cerca de 60 expositores por vez.
— Era um desapego que eu precisava fazer e que acabou virando profissão — conta Natália.
Além da edição mensal na João Telles, o brique é itinerante, sempre circulando pela cidade, além de marcar presença em festas e eventos. Os expositores são donos de brechós ou criadores de moda autoral e sustentável. Não é permitida a participação de revendedores comerciais.
Numa das bancas, a professora Maria Elisa de Mattos compartilhava os negócios com a filha, a designer de moda Nathalia de Mattos. Maria organizou um brechó pela primeira vez para angariar fundos para a formatura de Nathalia no Ensino Fundamental. Desde então, mãe e filha nunca mais pararam de lidar com roupas e acessórios, e hoje são donas da Casa Celinha, uma alfaiataria com loja física, site e presença frequente em eventos de rua.
— A gente garimpa as roupas, higieniza, faz toda a curadoria e depois passa adiante. É uma economia circular que beneficia a todos os envolvidos — comenta Nathalia.
Entre as peças de vestuário, sapatos e bijuterias, destacam-se as do artesão Paulo Roberto Sombrio. A partir de descartes de alumínio, garrafas pet e sementes, ele cria braceletes, pulseiras, colares e brincos.
— São sobras que em geral seriam colocadas fora, e nas minhas mãos se transformam em acessórios com design em forma de arte — resume.