Militantes ligados ao Movimento Cristão Conservador do PTB de Porto Alegre, à Associação Brasileira de Patriotas e ao Ministério Fé e Política estiveram envolvidos na confusão, inclusive com agressões, na Câmara de Vereadores na quarta-feira (20), durante a votação do passaporte vacinal.
Eles ingressaram nas galerias do Legislativo para protestar contra a exigência do comprovante de imunização da covid-19 em lugares de concentração de público, trajavam, em parte, camisas na cor verde estilizadas para o movimento e portavam um cartaz que continha uma suástica nazista. Esse foi o estopim para a confusão. Vereadores de oposição, mas também o presidente da sessão, Idenir Cecchim (MDB), que é governista, entenderam o gesto como apologia ao nazismo. Já os manifestantes dizem que tratou-se de uma denúncia. Na visão deles, o passaporte vacinal seria uma exigência comparável ao nazismo, movimento que perseguiu e assassinou milhões de pessoas na Segunda Guerra.
Um dos que aparece em destaque nas imagens do conflito, de cabelo escuro e barba, é o advogado Antonio Bertolin. Ele é o presidente do Movimento Cristão Conservador do PTB em Porto Alegre e integra organizações como a Associação Brasileira de Patriotas e o Ministério Fé e Política. Bertolin ocupou um cargo em comissão (CC) no Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE), órgão da prefeitura de Porto Alegre, entre agosto e outubro de 2021. Três semanas antes dos atos violentos ocorridos na Câmara, ele foi exonerado do cargo. A prefeitura informou, em nota, que a demissão aconteceu porque Bertolin supostamente “não cumpria suas atividades”.
— Fiquei pouco tempo porque o cargo de confiança é de livre nomeação e exoneração. É da natureza desse cargo — disse Bertolin.
A reportagem apurou que a indicação de Bertolin para o cargo no município teria partido do ex-vereador Wambert Di Lorenzo (PTB), atual diretor-executivo do Procon Porto Alegre, e da vereadora Tanise Sabino (PTB). Após a exoneração, eles teriam sido comunicados para que indicassem outro nome à vaga.
Ao lado de Bertolin nos momentos de trancos e safanões com vereadores estava Márcio Gonçalves Strzalkowski, também ligado aos movimentos que promoveram o ato contra o passaporte vacinal.
Strzalkowski já é um personagem conhecido das manifestações da direita. Em 2017, ele foi detido e acusado de ter agredido um professor em ato do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa).
— Houve o incidente com o Simpa. As imagens mostram que o Simpa iniciou agressão contra o youtuber Rafinha BK na frente da prefeitura. Eu defendi meu amigo e briguei com três de uma vez só. A Guarda Municipal nos encaminhou para a delegacia e, nesse meio tempo, o Simpa agrediu o youtuber Arthur do Val (atualmente deputado estadual em São Paulo) — afirmou Strzalkowski.
Mais recentemente, em 2020, ele lançou-se a vereador em Novo Hamburgo pelo Podemos, mas sua candidatura consta como indeferida no sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas redes sociais, já apareceu em fotos empunhando armas de fogo e ao lado de figuras como o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o deputado estadual Ruy Irigaray e o vereador Alexandre Bobadra.
— Sobre o encontro, foi um evento sobre um direito que vai completamente contra todas as formas de socialismo. O direito de possuir armas e se defender é considerado sagrado para os conservadores — disse Strzalkowski, em referência ao evento em que esteve ao lado dos políticos.
Na manifestação que descambou para a violência, ele trazia pendurados ao pescoço um crachá e uma máquina filmadora. Strzalkowski e Bertolin trocaram agressões e xingamentos pelo menos com os vereadores de oposição Roberto Robaina (PSOL), Matheus Gomes (PSOL) e Leonel Radde (PT), mas um dos momentos de maior tensão ocorreu quando ambos se engalfinharam com o governista Claudio Janta (SD), defensor da vacina e do passaporte de imunização.
Outro manifestante que apareceu com ênfase na tensão foi Pablo Igarsaba, que também fazia filmagens e vestia terno preto. Ele concorreu a vereador de Porto Alegre pelo PP em 2020 e colheu 41 votos, segundo o TSE. Depois do pleito, migrou ao PTB, onde também participa do Movimento Conservador Cristão na condição de tesoureiro.
Bertolin conversou com a reportagem de GZH e deu a sua versão sobre os acontecimentos. Ele diz que o grupo não é antivacina, mas contra o passaporte. Admitiu que a mulher que portava o cartaz com a suástica - não identificada até então - pertencia ao seu grupo, mas refutou que fosse uma apologia ao nazismo. Alegou que, na verdade, tratava-se de um protesto que buscava vincular o passaporte vacinal ao nazismo. Ele ainda afirmou que o PTB de Porto Alegre não teve relação com o protesto e os atos violentos.
— Em dado momento, o presidente da sessão (Idenir Cecchim) disse que deveria ser entregue um cartaz que tínhamos dizendo que o passaporte sanitário é uma medida nazista. Constava uma suástica, mas nem aparecia por completo. Era uma denúncia, não apologia. No que aconteceu isso, a moça que estava segurando o cartaz prontamente se retirou. Eu fiquei com o cartaz, disse que estava retido e que não seria mais apresentado. Aí os vereadores da esquerda radical, o Radde, o Robaina, o Pedro Ruas e o Matheus Gomes, adentraram as galerias exigindo que fosse entregue o cartaz. Dissemos que não iríamos entregar, mas eles insistiram e pressionaram. E aí começou a ter agressão. Inicialmente não agredimos ninguém. Nos recusamos a entregar o cartaz e, quando nos agrediram, revidamos — diz Bertolin.
Questionado sobre o fato de as imagens mostrarem agressões de parte a parte, mútuas, o militante diz que uma “apuração detalhada” poderia identificar que eles não deram causa ou início às agressões. Um dos vídeos feitos na Câmara mostra o momento em que Bertolin busca aproximação com vereadores e desfere um soco, que acaba passando no vazio.
Para os parlamentares de oposição, os manifestantes praticaram crimes de ódio e apologia ao nazismo. Eles registraram boletim de ocorrência na Delegacia de Combate à Intolerância, da Polícia Civil.
— A gente precisa que, para além da investigação, o Ministério Público e a Justiça avancem na criminalização de pessoas que proferem ideologia de ódio. Esse é o nosso intuito ao fazer esse boletim de ocorrência. A gente espera que o caso vá adiante para que não aconteça — disse o vereador Matheus Gomes (PSOL), nesta quinta-feira (21).