Uma semana após o incêndio que destruiu o prédio da Secretaria da Segurança Pública (SSP) em Porto Alegre, o trabalho de busca pelos dois bombeiros desaparecidos segue com dois focos principais: encontrá-los e não ferir ninguém das equipes que atuam dentro da estrutura em ruínas. Durante a madrugada desta quarta-feira (21), foi possível chegar ao núcleo do prédio e ao longo do dia a operação focou nos corredores de acesso comum ao imóvel, ponto da provável localização do 1° tenente Deroci de Almeida da Costa e do 2° sargento Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós.
— O risco é muito presente. O Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), UFRGS, Unisinos, entidades privadas e várias empresas de engenharia estão nos aportando conhecimento e são uniformes em confirmar que aquela estrutura está comprometida e corre risco de novos rompimentos e desabamentos. Isso tanto é verdade que no final de semana tivemos que comprar escoras de sustentação para algumas dessas estruturas e evitar que caíssem. Por uma questão de risco, o quanto antes possível conseguir vamos por o prédio abaixo — afirma o vice-governador e secretário da Segurança, Ranolfo Vieira Júnior.
Ainda não há previsão para demolição do prédio, mas Ranolfo espera, em um cenário otimista, poder executá-la em 40 dias. O incêndio no prédio que sediava a cúpula das decisões estratégias da segurança pública gaúcha iniciou por volta das 21h40min do dia 14 quando cerca de 40 pessoas trabalhavam no local. Sete testemunhas contam à Polícia Civil que viram a fumaça iniciar em uma sala do quarto andar, onde funcionava o setor administrativo da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). O prédio foi rapidamente evacuado e 15 minutos após o começo das chamas o quarto e quinto andar já estavam tomados pelo fogo. Por volta das 23h30min, parte da estrutura desabou. Dois bombeiros desapareceram no começo da madrugada do dia 15.
O ciclone no domingo, com ventos que chegaram a quase 80km/h, desprendeu telhado de zinco que ficava sobre o restaurante, no nono andar, e arrancou parte do concreto. Dentro da edificação, as equipes trabalham em uma área com cinco metros e meio de entulho. No começo da tarde desta quarta-feira, eram 115 pessoas atuando na área, entre bombeiros militares e técnicos. O grupo que faz as incursões aos escombros é formado por oito equipes de Forças de Resposta Rápida dos bombeiros, com 43 militares, e mais sete agentes que compõem as Equipes de Busca e Salvamento.
Em paralelo, é feito trabalho de remoção de escombros para ampliar os acessos ao prédio. São usadas quatro retroescavadeiras. Quem caminha do lado de fora, na Avenida Voluntários da Pátria — ainda fechada para o trânsito — ouve apitos do maquinário e dos bombeiros, usados para comunicação entre as equipes.
— Como há o risco de queda temos que ter todo zelo para não haver mais vítimas. A dificuldade é estrutural porque está tudo comprometido. Hoje estamos trabalhando com máquinas lá dentro. São cinco metros e meio de toneladas de material e estamos remexendo isso. Ao manusear, pode haver comprometimento de outras estruturas, isso pode estar sustentando algo que não caiu ainda. A cada movimento se faz uma avaliação — explica Ranolfo.
Tudo que é retirado do prédio é submetido a uma peneira, segundo o vice-governador. Dois cofres fechados já foram localizados. Em um deles, estavam 10 pistolas — cinco delas praticamente derreteram e as demais serão levadas para perícia. As armas pertenciam a equipe de inteligência da SSP. No segundo cofre estavam materiais do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
O comandante-geral do Corpo de Bombeiros afirma que a chegada das equipes ao núcleo do prédio permite acesso a outros pontos da edificação e abre novas frentes de trabalho. Duas equipes com cães vindos dos Bombeiros de Santa Catarina farão uma espécie de contraprova da área apontada como a provável localização dos desaparecidos pelos animais gaúchos. Ao longos dos sete dias de buscas, as bombeiros trabalham em revezamento.
— Temos renovado o pessoal e trazido colegas de outras regiões, até para manter o mesmo ritmo de trabalho — afirma coronel Cesar Bonfanti.
Uma sindicância administrativa e o inquérito da Polícia Civil apuram as causas do incêndio. O IGP atua com seis peritos dedicados em entender o que aconteceu. Enquanto não é permitido o acesso deles ao interior do prédio — o que pode vir a não ocorrer dependendo das condições de segurança da área —, os servidores fazem levantamento fotográfico e com drones, além de apurar características da edificação, aspectos construtivos do prédio, buscando informações sobre o Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) para avaliar as condições em que o desabamento aconteceu.
— Vamos apurar se o prédio se exauriu por questões de problema construtivo, se a técnica empregada foi adequada, se ele atendia as normas para suportar um incêndio ou se foi ao chão pelo tempo de permanência do incêndio. Não vamos deixar nada para trás até que se esgote todas as questões — explica o perito Carlos Alberto Borsoi.
A perícia não tem prazo para conclusão, está em estágio inicial e não antecipa nenhuma hipótese preliminar no momento. Outro fator que interfere no trabalho é a entrada de máquinas pesadas e a remoção dos escombros, o que aumenta a fragilidade da estrutura. Na avaliação do perito, o local virou um dos cenários mais sensíveis para perícia:
— A própria condição do incêndio pode se alterar por alguma condição climática. O trabalho será feito com os elementos que se tem, que darão a possibilidade de propor hipóteses sobre o que aconteceu. Não vamos ter condições de concluir.