Moradora da Ilha dos Marinheiros, Scheyane Zanoni Bitencourt, 28 anos, considera a Orla do Guaíba, nas proximidades da Usina do Gasômetro, um dos seus locais favoritos de Porto Alegre, cidade que completa, hoje, 249 anos. Aos domingos, quando a situação da pandemia permite, gosta de levar o filho, Emanuel, sete anos, para passear no local.
– Não é longe da minha casa e é um lugar bonito, agradável. Fazemos caminhadas, gostamos daqui. Também curto fazer exercícios nos aparelhos da praça aqui do outro lado da avenida (Praça Julio Mesquita) e levar meu filho para passeios de barco – conta.
Nas segundas-feiras, após os momentos de folga, Scheyane volta à Orla bem cedinho, a partir das 7h30min. Mas, desta vez, paramentada com calçados fechados, uniforme laranja, boné, luvas e seus instrumentos de trabalho: vassoura, pá e carrinho. Gari, ela faz parte da equipe que limpa o local há pouco mais de dois anos, e não esconde o orgulho do seu trabalho, ajudando a cuidar da cidade.
– Trabalhar aqui é um privilégio, né? Na hora do intervalo, consigo sentar por aqui, ver o Guaíba, assistir o pessoal andando de bicicleta ou caminhando. Gosto muito – conta.
Hospitalidade
Scheyane morou boa parte da vida em Viamão. Mudou-se para a Ilha dos Marinheiros quando o filho era bebê. Logo depois, conseguiu o emprego como gari na Cootravipa, que presta serviços para o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), na Capital. Desde então, além da Orla, também faz a varrição em locais como a Avenida Padre Cacique e o entorno da Rótula das Cuias, conforme uma escala predefinida.
– Desde que me mudei, fui muito bem recebida. Na cidade e na empresa. O povo de Porto Alegre é muito hospitaleiro. Sinto orgulho de ajudar a cuidar da cidade – garante a gari.
Questionada se já viveu alguma situação curiosa no local, Scheyane conta que não é incomum que pessoas peçam para tirar fotos enquanto ela trabalha, com o uniforme laranja típico dos profissionais da categoria:
– São pessoas que nem conheço! Digo que pode. É como se a gente fosse um pedaço da paisagem (risos).
O guarda do “prédio dos leões”
Preservar o patrimônio público, assim como zelar pelas pessoas, está entre as atribuições de Ivan Marques de Oliveira, 63 anos, que é guarda municipal em Porto Alegre há 34 anos. Mas o morador do Partenon considera o contato com as pessoas como uma das coisas boas do seu trabalho.
– Já trabalhei em diversos lugares de Porto Alegre, conheço bem a cidade. Por muitos anos, trabalhei no Pam 3 (atual Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul). Então, o contato é direto com a comunidade – conta.
Há cerca de quatro anos, Ivan trabalha no Paço Municipal, na Praça Montevidéu, um dos pontos mais conhecidos do centro da Capital, quase ao lado do Mercado Público. O prédio tem quase 120 anos.
– Aqui, ajudo na entrada de funcionários e no controle da recepção. Chega muita gente pedindo informação. É um prédio lindo, né? O entorno também. As pessoas olham, ficam deslumbradas. A arquitetura muito bonita, mas muita gente não sabe o que tem dentro do “prédio dos leões” – diz ele, orgulhoso, referindo-se às esculturas na fachada.
No local, além do gabinete do prefeito, do vice e de algumas secretarias, funciona a Pinacoteca Aldo Locatelli, que reúne um acervo com quase mil obras de arte. Quando a pandemia permite, também é possível visitar os porões, que possuem espaço para exposições, e o antigo cofre do tesouro municipal.
– Antigamente, todos os impostos vinham pra esse local. Em momentos de folga, já trouxe minha família para conhecer. Tenho muito orgulho do meu trabalho e de Porto Alegre. Temos que mostrar o que é bonito – finaliza Ivan.