Construída como uma forma de buscar a independência financeira e o empoderamento de mulheres em vulnerabilidade social, a SDV Reciclando, cooperativa de reciclagem do bairro Agronomia, na Capital, se tornou uma referência de solidariedade para sua comunidade. Isso porque, além de atuar na coleta seletiva, há mais de dois anos as gurias da cooperativa têm executado diversas atividades focadas no amparo às crianças e famílias da Vila dos Herdeiros. Hoje, devido às dificuldades que a pandemia trouxe, elas estão realizando uma campanha de arrecadação de material escolar para as crianças da comunidade.
Em outubro de 2020, a reportagem de GZH contou a história da SDV Reciclando, que surgiu após as irmãs Stefani e Paula romperem relacionamentos em que sofriam violência doméstica. Elas criaram a cooperativa para ajudar outras mulheres a terem independência financeira e poderem se libertar de relações abusivas.
O valor à educação é marca da cooperativa. A maioria das trabalhadoras do local retomou os estudos após ingressar na SDV, devido ao incentivo de Stefani Guedes, 28 anos, e Paula Guedes, 32 anos, idealizadoras do espaço. As irmãs são alunas do EJA no Colégio de Aplicação da UFRGS e têm o objetivo de cursar uma graduação. Elas contam que, por mais que tenham suas dificuldades, buscam apoiar as mães da comunidade na garantia da continuidade dos estudos das crianças.
– A educação, é difícil aqui alguém priorizar, porque eles ficam um pouco maiores e já vão trabalhar fora, pela necessidade da família – comenta Stefani.
Antes da pandemia, as irmãs costumavam encontrar cadernos usados nos materiais que reciclavam, e deles tiravam as folhas em branco para distribuir aos filhos, às crianças da comunidade e, também, para elas e outras mães que voltaram a estudar. Mas hoje não tem sido tão frequente achar esses cadernos. Então, decidiram iniciar a campanha pelo material escolar.
Ação social
Quando inauguraram a cooperativa, em 2018, as irmãs já tinham entre seus objetivos estender a atuação do grupo para além da reciclagem. Assim, um ano após o início da SDV, foi criado o projeto Juntos Sonhando e Construindo o Futuro (JSCF), uma ação que visa dar assistência para os moradores da vila. Todos os sábados pela manhã, antes da pandemia, as gurias se reuniam em uma praça que as crianças costumavam frequentar, e, lá, ministravam oficinas, brincadeiras e incentivo à pratica esportiva.
Fabiana Oliveira de Souza, 44 anos, é profissional autônoma. Sua rotina se divide entre os cuidados com os seis filhos e a busca por trabalho como faxineira e cuidadora de crianças ou de animais. A moradora da Vila dos Herdeiros, que precisa sair no início da manhã, conta que preocupa-se ao deixar os filhos em casa. Então, quando teve início o JSCF, três de seus filhos passaram a participar do projeto, o que foi um alívio. Isso porque Fabiana vê nas gurias da cooperativa uma influência positiva.
– As gurias se esforçam para acolher a gente. E, as minhas crianças nas mãos delas, eu sei que estão bem – pontua.
Pandemia impactou a renda
Com a chegada da pandemia, as oficinas do JSCF foram interrompidas, mas o projeto não parou. Com a crise causada pelo novo cenário, que resultou no aumento do desemprego, as irmãs contam que viram a necessidade de se mobilizar.
– A gente pensou, vamos fazer uns vídeos, pedir ajuda com cesta básica ou até mesmo com álcool em gel, que são coisas básicas para a higiene. (Para o) pessoal daqui, é bem difícil o acesso. A condição social é muito baixa. Então, a gente gravou o vídeo pedindo para o nosso grupo de reciclagem, e a gente ganhou muita ajuda – explica Stefani.
Com as primeiras doações, foi possível ajudar as 10 pessoas que trabalhavam na cooperativa e ainda dividir as cestas básicas com a comunidade, levando alimentos para mais de 30 famílias.
– A gente viu que era legal isso, e passamos a fazer vídeos pedindo ajuda – conta Stefani.
A pandemia também impactou na renda das gurias da cooperativa. Por serem de grupo de risco, algumas delas precisaram se afastar do trabalho. Assim, a coleta diminuiu. Foram as doações recebidas ao longo do ano que permitiram manter suas famílias.
Barbara: “É uma ajuda enorme”
Foi por meio de um vídeo nas redes sociais que a SDV Reciclando lançou a campanha de apadrinhamento para materiais escolares. Elas pedem a doação de cadernos, lápis, caneta, borracha e mochilas, a fim de entregar 100 kits de materiais escolares para a comunidade. Na segunda-feira passada, foi feita a entrega da primeira remessa de materiais.
A auxiliar de limpeza Barbara da Silva Pereira, 31 anos, tem cinco filhos. Três estão na escola. Ela conta que eles não têm conseguido acompanhar todas as aulas durante a pandemia, mas, ainda assim, realizar as atividades escolares se torna uma distração.
Os filhos de Barbara estão entre as crianças que receberam os materiais doados pela cooperativa. Ela fala que, com as escolas fechadas, aumentou seu gasto mensal. Profissional autônoma, conta que, mesmo quando consegue uma faxina, não há a garantia de que o trabalho será mantido. Por isso, comemora ter recebido os materiais escolares.
– Eles (meus filhos) ganharam lápis de cor, caderno, caneta. Tudo eu tô guardando. Eu sei que, quando essa pandemia passar, eles vão voltar para a aula e vai ser, para mim, um alívio não precisar comprar materiais, porque todos estão na escola. É uma ajuda enorme.
Como ajudar
- Para colaborar com a campanha doando materiais escolares, é preciso entrar em contato com a cooperativa para marcar a entrega através do número (51) 98955-7657.
- É possível usar o PIX 84747056068 ou, no Banco do Brasil, agência 2814-2 e conta 55512-6.
- Também, é possível ajudar na vaquinha criada para a compra do local onde pretendem instalar o galpão da cooperativa.
Produção: Émerson Santos