No colo do pai, o menino Gustavo de Souza Schussler, 6 anos, pede para mandar um recado à irmã mais nova, Amanda. Ela tem 3 anos e entre altas e internações, passou um terço da vida em tratamento, longe de casa.
– Quero dizer que eu amo muito ela.
O garoto vive com os pais em um sítio de Gravataí, na Região Metropolitana. Há 10 dias ele não tem contato presencial com Amanda, e as conversas são limitadas a chamadas de vídeo no telefone celular.
Internada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) para receber doação de medula óssea, a menina tem apenas a mãe a seu lado no quarto. Cristieni Kelsch de Souza Schussler, 34 anos, dedica a rotina à filha, na instituição.
Amanda foi diagnosticada com leucemia desde 2019. Nas sessões pré-transplante, perdeu o cabelo. O irmão foi o primeiro da família a raspar a cabeça, para que ela não se sentisse diferente.
– Eu quis ser o primeiro porque não queira ser o último - corrige Gustavo, com a simplicidade da infância.
Os avós, tios, padrinho e até amigos seguiram a iniciativa, e também passaram a máquina no cabelo.
– Foi algo espontâneo, não pedimos para ninguém. A ideia minha, do Gustavo e da minha esposa teve objetivo de ela se sentir acolhida. Se sentir amparada - explica o pai, o terapeuta Everton Schussler, 37 anos.
Em vídeos publicados nas redes sociais, Amanda se mostra uma criança comunicativa, com energia de sobra. Escova os dentes, passa batom e se esconde debaixo de um lençol, no berço instalado na ala infantil do hospital. Sorri e dança o tempo todo. No hospital, segundo a família, as pessoas questionam o motivo de sua permanência, pois ela não demonstra qualquer abatimento.
A doença inicialmente deixou todos sem chão, relembra o pai. Com o tempo, e a força demonstrada pela garota, as adversidades acabaram superadas. O apoio dos médicos do Hospital de Clínicas foram fundamentais.
– O hospital é incrível, nunca imaginei. A gente pensa que esse tipo de coisa não vai acontecer conosco, mas quando a gente se depara, encontra médicos sensacionais, como no Clínicas - agradece Schussler.
A compatibilidade do progenitor permitiu a coleta da medula, transplantada para a filha na manhã dessa quarta-feira (10).
– É expectativa de vida nova. Cura. Renascimento. Uma nova oportunidade que a vida nos dá - afirma o doador.
Eles rasparam o cabelo no dia primeiro de março, pouco antes da internação. Amanda vai ficar ainda pelo menos um mês no hospital, e deve evitar tomar sol por dois anos, além de ter um cuidado extra na alimentação.
Quando voltar, terá um parquinho no pátio, fruto de doações recebidas por amigos e outros voluntários. Os custos do tratamento também foram em parte bancados por uma rede de solidariedade, a qual o pai agradece a todo o momento.
Uma conta no Instagram foi criada para, segundo o terapeuta, auxiliar outras famílias a passarem por dificuldades semelhantes, com suporte mental e espiritual. No perfil @_familiadoamor_, parte do dia a dia de Amanda é compartilhado.