O número de mulheres grávidas infectadas pelo coronavírus tem aumentado em instituições de saúde da Capital. No Hospital Nossa Senhora da Conceição, foi registrado um aumento de 50%, em fevereiro, no número de internações de gestantes, quando comparado a janeiro.
Francisco Paz, diretor-técnico do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), afirma que o crescimento da entrada de grávidas em leitos coincide com a explosão de internações registrada em meados de fevereiro:
— Os números do mês passado são iguais ao de julho. Nesses meses, tivemos a internação de 12 gestantes em cada um. Além de acompanhar esse boom de maior incidência de casos no Estado, notamos que a faixa de idade das pessoas afetadas pela doença também diminuiu, assim como é observado no público geral. Semana passada, registramos o óbito de uma gestante, de 37 anos, que teve que ser submetida a uma cesárea. E, neste final de semana, realizamos o parto agilizado de uma mulher de 27 anos que também está com covid.
Maria Lúcia Oppermann, diretora científica da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs)e chefe do centro obstétrico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), observa que o centro registrou um significativo aumento no número de gestantes positivadas para a doença:
— Não são dados de internação, mas apontam uma tendência de comportamento. De março a dezembro passado, das 91 gestantes sintomáticas que chegaram até nós, no centro obstétrico, 38,5% estavam positivadas. Já este ano, das 24 grávidas sintomáticas, 71% positivaram para a doença. É um aumento muito expressivo.
Riscos na gravidez ainda são incertos
Até o momento, a literatura médica se mostra incerta em relação aos efeitos do coronavírus em gestantes. Um artigo publicado pela revista científica Journal of American Medical Association (Jama) apontou que existe maior probabilidade de que ocorram casos de pré-eclâmpsia durante a gravidez de mulheres infectadas pelo vírus. Porém, os autores do estudo reconhecem que é preciso encontrar mais evidências para confirmar essa relação de causa e efeito.
Paz reforça que não há registro de óbito de crianças recém-nascidas de mães positivadas, contudo, afirma que o quadro pode atrapalhar o desenvolvimento do bebê.
— Não temos evidência do que poderia acontecer se tivéssemos alta incidência de bebês com covid. O nosso motivo de preocupação é que a mãe com quadro grave da doença pode precisar ser internada em leito de UTI, como foi o caso de uma de nossas pacientes. Isso vai exigir cuidados respiratórios e ficar na posição prona (de barriga para baixo). Aí, será preciso acelerar o parto para que a gente consiga aplicar os cuidados necessários — observa o diretor-técnico do GHC.
A chefe do centro obstétrico do HCPA detalha que é possível pronar grávidas, mas que isso envolve 13 pessoas, enquanto em casos regulares a manobra requer a presença de oito profissionais.
Obesidade é um agravante para mães
A obesidade se mostra como um dos fatores de preocupação entre os médicos. Grávidas que enfrentam esse problema têm mais chances de desenvolver a forma grave da covid-19, diz Jose Geraldo Ramos, professor de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do HCPA.
— Esse fator está associado à prematuridade da criança. Geralmente, se faz o parto com antecedência e se interrompe a gravidez para que a mãe consiga melhorar a capacidade pulmonar — afirma.
Isso porque, quando o útero está expandido, os pulmões não conseguem descer, o que provoca a queda na capacidade respiratória da gestante. Esse quadro é piorado na forma severa de manifestação da doença.
Maria Lúcia destaca ainda que é preciso ficar atento ao terceiro trimestre da gravidez e nas duas primeiras semanas após o parto:
— Nessas etapas, o estado metabólico do corpo se torna mais inflamatório, e isso é um prato cheio para que casos severos de covid se manifestem. Além disso, a coagulação aumenta na gravidez, e isso também pode trazer complicações — alerta.
Em relação aos bebês, alguns artigos sugerem que mães recuperadas podem ter uma ruptura precoce da bolsa, mas isso também precisa ser estudado em mais casos. As fontes entrevistadas pela reportagem afirmam que, de maneira geral, as crianças nascem saudáveis, diz Ramos.
— Não há risco de transmissão materno-fetal na literatura médica. Estamos estudando esse aspecto, mas deve ser pequena a taxa de transmissão, se ela existir. O risco pode acontecer depois, por via respiratória, se a mãe não usar máscara, por exemplo. Porque o leite também não é mensageiro da doença — explica.
Cuidados
As recomendações para gestantes são as mesmas da população em geral:
- Atenção redobrada com a higiene das mãos, fazer uso da máscara e evitar aglomerações
- Caso apresente sintomas do coronavírus, vá até o posto de saúde mais próximo da sua casa para realizar o teste e siga as orientações médicas
- Não deixe de fazer suas consultas mensais e exames pré-natal