Assim como a pesquisa de cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), um estudo desenvolvido pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos constatou que as gestantes têm mais risco de complicações em caso de infecção pelo coronavírus. Segundo informações do jornal El País, a pesquisa analisou a maior amostra de pacientes até o momento: 400 mil mulheres sintomáticas com covid-19, sendo 23,4 mil grávidas.
De acordo com o estudo do CDC, as gestantes têm uma probabilidade significativamente maior do que as mulheres não grávidas de ir para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de precisar de ventilação mecânica e oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). Além disso, a pesquisa apontou maior risco de morte:
“Foram notificadas 34 mortes (1,5 por mil casos) entre 23.434 mulheres grávidas sintomáticas, e 447 (1,2 por mil casos) entre 386.028 mulheres não grávidas, o que reflete um aumento de 70% no risco de morte associado à gestação”, afirma o levantamento, que reuniu mulheres dos Estados Unidos, com idades de 15 a 44 anos e infecção confirmada por laboratório entre 30 de janeiro e 3 de outubro de 2020.
— Elas precisam se conscientizar de que são um grupo de risco — alerta Clara Menéndez, diretora da Iniciativa de Saúde Materna, Infantil e Reprodutiva do centro de pesquisas ISGlobal, de Barcelona, na Espanha, ouvida pelo El País.
Os riscos se agravam ainda mais com a idade, considerando que grávidas de 35 a 44 anos diagnosticadas com covid-19 têm quase quatro vezes mais chances de precisar de ventilação e duas vezes mais de morrer em comparação com as não gestantes da mesma idade. Segundo especialistas, esses dados podem estar relacionados às mudanças fisiológicas que a mulher sofre durante a gravidez.
— Há várias hipóteses. O sistema imunológico de uma grávida sofre mudanças para não rejeitar o feto como um corpo estranho. Ele se adapta. Não é que a mulher esteja imunodeprimida, mas pode haver mudanças imunológicas que influenciam numa maior reação inflamatória à covid-19 — aponta a pesquisadora do ISGlobal. — Com a gravidez, o útero vai tomando mais espaço e os pulmões reduzem sua capacidade de expansão. O esforço é maior, e a capacidade pulmonar, menor. Além disso, o gasto cardíaco é maior porque o coração trabalha por dois, sobretudo no último trimestre da gravidez, e há menos oxigênio para todos os órgãos vitais — acrescenta.
Anna Suy, chefe da seção de obstetrícia do hospital Vall d’Hebron de Barcelona, complementa:
— A covid-19, além disso, provoca tromboembolismos, e as mulheres grávidas já têm risco alto de trombose, por isso temos que lhes dar heparina (medicamento anticoagulante).
Para as especialistas, o comportamento da doença nas gestantes “parece bastante lógico”, considerando essas mudanças, o que também não é muito diferente de outros vírus respiratórios.
— Vamos aprendendo a cada dia, mas sabemos que não é muito diferente de outras infecções respiratórias virais, como a gripe, que afeta mais as grávidas e com mais risco de complicações, ou a sars de 2003, que também gerava mais risco de gravidade, ou a mers, em que se via mais mortalidade — explica Clara.
Elas salientam ainda que a incidência de complicação grave com gripe é muito maior, mas, mesmo assim, o risco da covid-19 continua sendo maior, principalmente no terceiro semestre de gestação. A partir dessas evidências, as pesquisadoras defendem que as grávidas estejam entre os primeiros grupos a receber a futura vacina.
Desde janeiro, o CDC contabilizou 34.968 grávidas com coronavírus, sendo que 7.424 tiveram que ser hospitalizadas, ao menos 274 estiveram na UTI, 84 precisaram de ventilação mecânica e 50 morreram. De acordo com Anna, na Espanha, um registro mantido pela Sociedade Espanhola de Ginecologia e Obstetrícia já soma 700 grávidas com covid-19, “mas devem ser muito mais”.