A solidariedade de uma família evitou que as frustrações de 2020 se estendessem às crianças de uma comunidade no Natal. Triste pela filha não ter recebido presentes de uma caravana que passou pela cidade de Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, uma mãe foi às redes sociais desabafar. No texto, contou que a menina ficou esperando pelos brinquedos, e quando a visita não chegou em casa, chorou.
– Deus é maior que promessas de humanos - prometeu a mãe à filha, no Facebook.
A postagem foi recebida com consternação pelos irmãos Claudete, Cleni e Marcos Silva de Oliveira. Eles contataram as famílias da comunidade, o assentamento Belo Monte, na zona rural do município. Fizeram uma lista dos desejos de cada uma das 40 crianças e, na última sexta-feira (18), entregaram os presentes.
Os irmãos também vivem na Região Metropolitana: Claudete, em Guaíba, Cleni e o esposo, em Cachoeirinha, e Marcos, em Viamão.
Claudete Silva de Oliveira conhece bem a realidade de quem vive no assentamento: é diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Sergipe, no bairro Bom Retiro, também em uma área interiorana de Eldorado, instituição que acolhe estudantes da comunidade. Em parte da região, segundo a docente, não há sequer sinal de telefonia móvel.
– Ela conta que, ao deparar com o Papai Noel, nem mesmo os adultos esconderam a emoção. Uma das mães nunca havia visto, pessoalmente, o bom velhinho.
– Conhecer a dureza da vida deles, e ver a emoção dos pais e das crianças com a chegada do Papai Noel, é um presente que eu não esperava neste ano de 2020 – afirma a professora, de 56 anos.
Cleni Silva de Oliveira, 52 anos, afirma que nos últimos três anos os irmãos levaram doações a asilos. Com a pandemia de coronavírus, suspenderam a ação com os grupos de risco. Optaram, para esta ação, pelo assentamento de chão batido e casas precárias ocupado por pessoas de baixa renda.
– Me comoveu ver a foto da criança no Facebook, chorando. E temos condições. É o momento de ajudar, levar a magia do Natal a quem está isolado - diz a funcionária pública.
O personagem foi vestido pelo barbeiro Sírio Roberto de Paula, 56 anos, marido de Cleni. De escudo facial, ele pôde ficar com a barba à mostra.
– Algumas crianças vieram correndo me abraçando, mas eu precisava dizer que não dava. Mas foi muito emocionante da mesma forma - relembra.
Houve até quem procurasse a chaminé para o Papai Noel.
– Não cabe pelo cano do fogão à lenha - disse uma das crianças aos voluntários.
Na manhã desta segunda-feira (21), as irmãs e o Papai Noel se reuniram na Rua da Praia, ao lado da Praça da Alfândega, no Centro Histórico de Porto Alegre. Enquanto explicava a iniciativa em entrevista à Rádio Gaúcha, o personagem natalino recebeu elogios e cumprimentos. E na esperança de um 2021 melhor, os irmãos prometeram ações semelhantes no ano que vem - preferencialmente com o retorno dos abraços.