Seja dos pontos mais queridos, dos hábitos ou da mera sensação de liberdade ao percorrer suas ruas, são muitas as saudades da Porto Alegre de antes da pandemia do coronavírus. Convidamos cinco personalidades da cidade que estão curtindo suas casas a contar do que sentem falta e onde pretendem ir tão logo o distanciamento social deixar de ser necessário.
Nei Lisboa, músico
"As saudades são muitas, do palco, dos bares e cafés do Bom Fim, de passear na Redenção despreocupado com a mulher e o cachorro. O chato é que não deve retornar da forma que era, né? Acho que durante um tempo teremos essas aberturas e fechamentos até que se configure uma flexibilização em que a gente se sinta seguro, em que possa contar com a segurança coletiva. Sobre a Redenção é uma saudade a mais porque eu morava pertinho, agora fiz uma mudança para o Rio Branco e não estou conseguindo sequer avistá-la. É para onde eu iria primeiro."
Martha Medeiros, escritora
"A minha rotina, em si, não mudou tanto. Estou acostumada a ficar muitas horas em casa trabalhando, escrevendo. Mas faz toda diferença sentir que tenho a liberdade para sair dessa reclusão a hora que eu quiser. Então sinto falta do ritual de sair de casa para ir ao cinema, para ir a uma peça de teatro. A pandemia me pegou com alguns ingressos comprados na mão. Agora, se tiver de escolher apenas um lugar para onde quero ir quando isso tudo terminar, tenho de dizer o Salgado Filho mesmo. Porque estou morrendo de vontade de dar um abraço na minha filha, que está na França e eu visitaria logo mais."
Eduardo Bueno, jornalista
"Já que eu não posso responder a Arena do Grêmio, vou eleger outro lugar que eu gostaria de retornar: o Parcão. Faz só 40 dias que estou em casa, mas faz mais tempo que não vou ali porque a frequência não anda boa. É um local que eu amo: por ser vizinho, por ser o berço do meu time, e por ter testemunhado a transformação dele em parque, na década de 1970. Um espaço democrático que, por razões explicáveis, mas constrangedoras e trágicas, virou um reduto de gente defendendo ditadura. Espero que os ares da pandemia façam diferença."
Thedy Corrêa, músico
"O que farei primeiro? Respondo de pronto: comprar erva-mate no Mercado Público. Não é algo que eu faça com tanta frequência, porque viajo bastante, mas a cada 20 dias, sem dúvida, saio do Petrópolis e vou até o Centro Histórico fazer essa visita. Sempre que posso, com a minha filha junto. Sei que o Mercado Público está aberto, mas não pra mim. Assisti àquelas cenas na Feira do Peixe e dá para ver que o pessoal não está respeitando distanciamento. Gostaria de voltar quando me sentir seguro."
Carlos Gerbase, cineasta
"Tem um programa que me faz muita falta que é passear pelos sebos do Centro Histórico. Costumava ir muito ali no sábado de manhã, mas não tinha muito dia e horário, não. Ia quando dava vontade. Percorrer os corredores do Beco dos Livros, ali na (Rua) Riachuelo, folheando coisas aleatórias: divulgação científica, biologia, astronomia. Subir a escada pra ver o que tem lá em cima… Poderia garimpar livros pela internet, mas acho que dá mais trabalho e certamente é menos prazeroso do que de forma presencial.