Uma Porto Alegre diferente despertou na manhã deste domingo. Ruas vazias, parques solitários, comércio fechado. Não havia cheiro de churrasco a temperar a brisa outonal do domingo de quem caminhava pelas calçadas. Tampouco a risada fácil de quem compartilhava o chimarrão no banco da praça.
A calmaria tem nome: prevenção.
Atendendo a recomendação das autoridades médicas, pouca gente saiu de casa. O medo de contágio pela covid-19, que até este domingo já havia atingido 81 pessoas no Estado, 42 delas na Capital, ditou o novo padrão de comportamento do porto-alegrense. Agora, a rotina é de confinamento. E quem se arrisca do lado de fora da porta, numa cruzada inadiável ao supermercado ou à farmácia, anda com pressa, muitos com a face protegida por máscara e as mãos guarnecidas por luvas.
Não há medo de parecer extravagante nesse figurino de pandemia. Até porque não há nada de espalhafatoso em circular por aí envelopado de cuidados médicos quando uma doença mata em escala geométrica mundo afora. Quase 15 mil mortes no planeta, 25 no Brasil e nenhuma em Porto Alegre. É na tentativa de manter zerado esse placar que o isolamento se impõe.
O clima foi generoso com os gaúchos no domingo. Os termômetros alcançaram 30ºC em várias cidades e qualquer atividade ao ar livre parecia convidativa. Mas um passeio pelas avenidas largas e desabitadas da Capital mostrava um grau inédito de conscientização sanitária. Com a maior parte da população recolhida, o risco de contaminação cai drasticamente.
Alerta
Ainda assim, sempre há os teimosos. Na orla do Guaíba, aqui e ali passava algum desavisado. No Parcão e na Redenção, poucos se exercitavam em meio ao deserto humano. Era para esses incautos que, detrás das árvores, megafone em riste, o Guri de Uruguaiana direcionava seu recado.
— Não pode sair de casa, minha senhora! Não sabe que é grupo de risco? Mais de 60 anos tem mais chances de contrair essa porcaria de vírus! Passeando de bicicleta, loco? Tu não tá sabendo o que tá acontecendo no mundo? – ralhava o personagem do humorista Jair Kobe, em ação da Defesa Civil.
Houve quem sorrisse e quem xingasse. Constrangida, a maioria tomou o rumo de casa. É o custo da proteção social. E ainda não basta. Projeções mostram que a reclusão será fundamental nos próximos dias. Apesar da aparente paralisia, ainda tem muita gente na rua, aumentando os riscos de multiplicação da doença.
Fique em casa se sua atividade não for serviço essencial. Hoje, amanhã, depois. Até quando os médicos mandarem.
A cidade vazia inevitavelmente se tornou melancólica. Mas vai passar.
Por que ficar em casa
A recomendação de organismos nacionais, como o Ministério da Saúde, e globais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), é para a população ficar em casa. O objetivo é diminuir a velocidade de propagação do coronavírus e achatar a curva epidêmica.
Os vírus respiratórios se espalham pelo contato, pela proximidade com o outro. O corona se propaga pela tosse ou espirro, pelo toque ou aperto de mão, por catarro ou pelo contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido do contato com a boca, o nariz ou os olhos.
Por isso, a importância da prática da higiene frequente (lavar as mãos com água e sabão ou utilizar álcool gel), além da desinfecção de objetos e superfícies tocados com frequência (como celulares e maçanetas).
Portanto, o Ministério da Saúde recomenda evitar aglomerações e reduzir o contato social, o que, consequentemente, reduz as chances de transmissão do vírus.
Ao se expor na rua, as chances de contágio são maiores. Assim como há o risco de quem estiver infectado estar sujeito a transmitir o vírus, mesmo que não apresente sinais da doença, colocando um número maior de vidas em perigo.