De boa fé e com a intenção de ajudar, celebridades e pessoas comuns compartilharam exaustivamente no fim de semana um gráfico elaborado por técnicos do banco JP Morgan sobre a evolução do coronavírus, acompanhado de uma interpretação, no mínimo, duvidosa.
A ideia era reforçar o apelo para que as pessoas fiquem em casa, mas as mensagens continham um equívoco ao dizer que se todo mundo se isolasse “até quarta-feira”, seria possível cortar a corrente de transmissão do vírus e, assim, garantir o “achatamento da curva” e evitar o colapso do sistema de saúde.
Na entrevista do fim da tarde de domingo (22), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, deu a real: não é pelas previsões de um banco que as pessoas devem se pautar, mas pela orientação das autoridades da área sanitária.
Mandetta foi além. Pediu que se tenha cuidado com as fake news e que se leve a sério os dados oficiais. O problema da mensagem em questão, que se multiplicou em grupos de WhatsApp, era a ideia contida nas entrelinhas de que se o isolamento extremo fosse adotado até quarta-feira, o Brasil não teria uma curva acentuada de casos no período que o Ministério trata como crítico, o final de abril. Ou metade de abril, segundo algumas das versões baseadas nos especialistas do JP Morgan.
O gráfico é inocente. Apenas traça cenários, com base na evolução da covid-19 em outros países, como fizeram os técnicos da Secretaria de Planejamento do Rio Grande do Sul para estimar o número necessário de leitos de UTI.
Ficar em casa nos próximos dias ou semanas é crucial para deter a transmissão. Mas não há prazo para o fim do isolamento. Vai depender da evolução do número de casos e só quem pode definir o momento de afrouxar a vigilância são as autoridades da área da saúde.
A mensagem “Fique em casa” vale para todos os que podem fazer isso. Porque trabalhadores da saúde, da segurança, do transporte, dos serviços de limpeza das cidades e do comércio de alimentos e medicamentos terão de continuar trabalhando.
Com pequenas variações, o modelo é o mesmo dos países que já adotaram restrições à circulação de pessoas, única medida eficaz para evitar o contágio em massa e o colapso nos hospitais.
O infectologista Paulo Ernesto Gewehr, que tem prestado um inestimável serviço de orientação aos leigos, recomenda cautela tanto com as previsões catastróficas quanto com as soluções simplistas. Diz que não há como saber como se comportará a curva no Brasil, até porque o número de pessoas testadas é muito baixo. Na dúvida, reforça a recomendação: fique em casa e só saia se for absolutamente necessário.
Aliás
Diante do comportamento errático do presidente Jair Bolsonaro, o ministro Luiz Henrique Mandetta assumiu na prática o comando do país, com serenidade e pulso firme nas determinações sobre o combate ao coronavírus.