O alerta feito nesta sexta-feira (20) pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, de que o sistema de saúde entrará em colapso no final de abril, é motivo suficiente para que se comece a levar a sério a proposta de adiar as eleições de outubro. Se a ciência não encontrar um medicamento para combater a covid-19, os próximos seis meses serão críticos e exigirão o país unido.
Com a economia parada, sabe-se lá por quanto tempo, será inevitável a queda brutal da arrecadação. O melhor que se pode fazer agora é o Congresso entrar em acordo para direcionar à saúde todos os recursos previstos o orçamento para o fundo eleitoral e para as emendas parlamentares.
Adiar uma eleição prevista para ocorrer em pouco mais de seis meses pode parecer precipitação, mas é com base nas previsões do próprio Ministério da Saúde que essa ideia começa a ganhar corpo entre parlamentares de diferentes partidos. O deputado Ronaldo Santini (PTB) é um deles. Advogados especialistas em direito eleitoral já aventavam essa hipótese antes de Mandetta dizer em entrevista que o número de casos vai seguir uma espiral ascendente nos próximos 60 a 90 dias.
— Estamos imaginando que nós vamos trabalhar com números ascendentes, espirais ascendentes em abril, maio e junho. Nós vamos passar 60 a 90 dias de muito estresse — disse o ministro na terça-feira.
Nesta sexta, alertando para a necessidade de conter o avanço do vírus pelo isolamento, Mandetta foi mais longe:
— Nós temos aí uns 30 dias para que a gente resista razoavelmente bem, com muitos casos, dependendo da dinâmica da sociedade, mas, claramente, no final de abril nosso sistema entra em colapso. O que é um colapso: às vezes as pessoas confundem colapso com sistemas caóticos, com sistemas críticos, em que você vê aquelas cenas de pessoas nas macas. O colapso é quando você pode ter o dinheiro, o plano de saúde, a ordem judicial, mas simplesmente não há o sistema para você entrar. É o que está vivenciando a Itália, um país do primeiro mundo.
Na Itália mencionada pelo ministro, rica e com população de 60 milhões de habitantes, o caos se instalou no sistema de saúde. No Brasil, um país com imensa desigualdade social, somos mais de 200 milhões.
Temos a vantagem de poder deter o crescimento do número de casos pelo isolamento, medida que a Itália demorou a adotar porque, no início do surto, os alertas para a gravidade da situação não foram levados a sério, apesar do farto material disponível sobre a evolução dos casos na China.
O Brasil conta também com o clima, quente na maioria das regiões, mas não há evidências científicas de que esse fator possa, de fato, inibir a proliferação.
É por esse cenário tenebroso que o adiamento da eleição, com a necessária prorrogação dos atuais mandatos, tem de estar no radar dos políticos. Em que clima se fará uma eleição em mais de 5 mil municípios, recém saindo de uma guerra?
Aliás
Para quem ainda acha que há exagero nas medidas adotadas para tentar conter a expansão do coronavírus, convém lembrar que, nos últimos dias, na Itália, é como se caísse a cada 24 horas um avião com mais de 500 passageiros ou como se ocorressem duas tragédias idênticas à da boate Kiss por dia.