Doze famílias foram transferidas da Vila Nazaré, na zona norte de Porto Alegre, nesta sexta-feira (6), primeiro dia da segunda etapa do trabalho no local. A ação começou pela manhã e foi encerrada por volta das 18h. O movimento é necessário para que sejam realizadas as obras de ampliação da pista do Aeroporto Salgado Filho. Nesta fase, 236 famílias serão movidas para o condomínio Senhor do Bom Fim, no bairro Sarandi, ocupando 100% do local — que tem 364 residências, entre casas e apartamentos.
A família do casal Josimar Espindola Teixeira, 27 anos, e Greyce Oliveira, 25 anos, é uma das que se mudaram nesta sexta-feira. Junto com as três filhas, Maria, nove anos, Agata, sete anos, e Victoria, três anos, eles comemoram o recomeço após um episódio triste.
No dia 26 de novembro, a casa na qual moravam na vila pegou fogo. Desde então, eles moravam de favor na casa de familiares.
— É ótimo sair daqui. Aqui é bom, mas não dá mais. Quando chove, tem muita lama. A luz é complicada também — diz a mulher.
Em meio ao trabalho da equipe que auxiliava no transporte dos pertences dos moradores, as filhas do casal se divertiam ajudando a carregar roupas e outros utensílios domésticos. Tentando superar o trauma do incêndio que consumiu sua antiga casa, Josimar confessa que não gostou muito da ideia de sair da Vila Nazaré no início, mas que passou a aceitar melhor a mudança:
— No começo, eu não queria sair, porque foi aqui que eu lutei e conquistei todas as minhas coisas. Como agora não tem mais o que lutar, aceitamos numa boa. Estamos felizes com a nova moradia.
Na primeira etapa, finalizada no início de agosto, 128 famílias foram realocadas no mesmo condomínio. Conforme o cronograma do Departamento Municipal de Habitação (Demhab), serão 10 transferências por dia nessa segunda fase, que deve durar até o final de dezembro.
Na quarta-feira (4), as famílias receberam as chaves das novas moradias após assinarem os contratos na Caixa Econômica Federal. Até o meio-dia desta sexta, seis casas haviam sido esvaziadas, segundo o Departamento Municipal da Habitação (Demhab).
Após a desocupação dos imóveis, uma equipe derrubava as estruturas com o auxílio de uma retroescavadeira.
Natal e Ano Novo em casa nova
Ao caminhar pela vila na manhã desta sexta-feira, chamava atenção a movimentação de caminhões de mudança carregados, que dividiam espaço com a população que passava pela região. O casal Geisibel Paredes, 34 anos, e Everton Leandro Paredes, 35 anos, retiravam as últimas coisas da casa antes de o imóvel ser demolido. Em frente à residência, a mulher aguardava ansiosa ir para a nova moradia.
— Para mim, não é a minha casa que está sendo destruída, mas sim uma casa nova que estou recebendo. Não existe destruição. Existe um novo começo — comemorava.
O casal tem quatro filhos, Luana, 12 anos, Estefani, nove anos, Sophia, seis anos, e o pequeno Samuel, três anos. Dando os primeiros passos na mudança, Geisibel já planeja as festividades de fim de ano na nova casa:
— Hoje é de verdade. Tantos anos falando que vai sair e nunca sai. Eu até antecipei minha data de mudança, porque eu estava ansiosa. Queria sair de uma vez. Passar o Natal e Ano Novo em casa nova — planeja.
Restam ainda 936 famílias para serem transferidas do local. Esse grupo será encaminhado para condomínio Irmãos Maristas, no bairro Rubem Berta. A intenção do Demhab é começar essa nova etapa ainda no primeiro trimestre de 2020. Os moradores que vão habitar esses locais já iniciaram a escolha das unidades, segundo o órgão. O imóvel ainda não foi liberado pela Caixa Econômica Federal, de acordo com o Demhab .
Cronograma de obras
Em outubro deste ano, a Fraport, empresa que administra o aeroporto Salgado Filho, entregou a reforma do Terminal 1 do aeroporto. Chamada de Fase Runway, a etapa de ampliação da pista está em andamento e deve ser encerrada em 2021.
Batalha judicial
Um imbróglio judicial travou o processo de transferências. No fim de julho, a Justiça Federal suspendeu a segunda etapa da remoção e realocação de famílias da Vila Nazaré, no entorno do aeroporto, até audiência marcada para 8 de agosto. A decisão atendeu parcialmente a um pedido do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul, da Defensoria Pública da União (DPU) e da Defensoria Pública do RS. Os órgãos solicitaram que a Fraport não realizasse "qualquer remoção, realocação ou reassentamento forçado antes da conclusão do cadastro integral das famílias". No mês seguinte, a juíza federal Thais Helena Della Giustina revogou a determinação, abrindo espaço para a continuidade do processo.