A Companhia Carris Porto-Alegrense terminará 2019 atrás de duas metas primordiais estabelecidas pela gestão que assumiu em 2017: zerar o déficit e renovar a frota de ônibus. E o não cumprimento desses dois objetivos está diretamente ligado.
Atualmente, a empresa tem 87 ônibus que devem parar de circular em maio de 2020, quando completam 14 anos — limite de vida útil estabelecido em decreto do Executivo aos coletivos comuns, aqueles não-articulados e movidos a diesel. Em fevereiro, GaúchaZH adiantou que esses ônibus circulavam há mais de 12 anos, vida útil que era permitida para os carros comuns antes do decreto editado em abril.
A ideia era substituir os coletivos ainda em 2019, mais especificamente em outubro, como projetou a diretora-presidente da Carris, Helen Machado, em junho. Assim, só no primeiro ano de rodagem, os novos veículos diminuiriam o custo de manutenção em R$ 3,5 milhões, além da venda dos carros antigos render R$ 2,4 milhões aos cofres.
As receitas auxiliariam na guinada positiva das contas, possibilitando o alcance da outra meta, a de zerar o déficit — que chegou a ser de R$ 74 milhões em 2016.
Isso ainda não ocorreu porque a avaliação de crédito da empresa não seguiu a mesma curva ascendente que as contas da estatal têm apresentado desde 2017, quando Helen assumiu a Carris. Sob a batuta da diretora-presidente, o déficit apresentado em 2016 foi reduzido para R$ 19 milhões no ano passado — diminuição de R$ 55 milhões, ou 74%. Com esses dados positivos em mão, a estatal lançou edital para renovação da frota, em março. Selecionadas as vencedoras, a Carris saiu em busca de financiamento, mas os números dos anos anteriores não favoreceram.
Em julho, veio a notícia de que a Caixa Econômica Federal seguiria adiante com a negociação somente se a prefeitura de Porto Alegre fosse garantidora do financiamento — algo semelhante a um fiador. Isso porque não havia confiança suficiente de que a Carris conseguira honrar com os pagamentos. Para que isso fosse possível, as contas do Executivo também foram avaliadas pelo banco.
Agora, a Câmara de Vereadores precisa votar uma lei autorizativa que permitirá ao município ser o "fiador" da Carris. O projeto foi encaminhado ao Legislativo pelo prefeito Nelson Marchezan em setembro.
Solução até maio do ano que vem
A expectativa é de que o texto seja levado a votação em novembro. Se isso ocorrer, o contrato de compra pode ser assinado ainda em 2019. O período de montagem os ônibus dura cerca de 60 dias. Assim, os carros começariam a chegar durante o mês de fevereiro, projeta a direção da Carris.
— A nossa eficiência operacional depende dessa renovação de frota. Precisamos disso para transportar nossos clientes com eficiência — explica Helen.
Se os ônibus novos não forem incorporados na frota até maio, a Carris terá de operar com 87 veículos a menos, deixando de transportar 40 mil pessoas por dia. A direção não trabalha com essa visão e acredita na aprovação da lei nos próximos dias. O valor do financiamento da Caixa para aquisição dos coletivos é de R$ 41 milhões.
Resultados passam por mudanças internas
Antes de pensar em colocar ônibus novos na garagem, a gestão da Carris preocupou-se em mudar um cenário de caos que estava instaurado há três anos. A empresa reduziu R$ 9 milhões em gastos com folha de pessoal, R$ 4,4 milhões com indenizações trabalhistas e cíveis, R$ 3,2 milhões de redução de impostos e R$ 2,6 milhões em pagamentos a fornecedores, graças a revisões de contratos, entre outras iniciativas. Os dados são de 2018, na comparação com 2016.
Um momento marcante da administração ocorreu em agosto deste ano, quando, pela primeira vez em sete anos, a empresa fechou um mês com lucro líquido. O saldo positivo foi R$ 124 mil. Helen ressalta que o número foi simbólico, não muda a situação delicada da empresa e do sistema de transporte público, mas mostra como é possível manter a empresa funcionando sem tantos aportes da prefeitura.
Atendimento
Outro ponto que foi atacado nos últimos anos é o treinamento de colaboradores. Nos últimos três anos, a Carris aumentou em 500% o índice de capacitação de funcionários, impactando na diminuição de acidentes de trânsito e de acidentes de trabalho. Nos corredores da empresa, murais e banners estampam a meta "zerar o déficit". A relação aproximada entre os setores administrativos e operacional é essencial para a gestão cooperativa proposta pela direção.
Logo na entrada do setor operacional, onde estão motoristas e cobradores, um painel mostra elogios dos usuários ao trabalho da empresa. E num mural ao lado, também são expostas as críticas. Os nomes dos passageiros e as linhas citadas são preservados.
— Queremos que eles vejam a parte boa, dos clientes que foram bem atendidos. Porém, também é importante expor os problemas — explica Helen.