Dezenas de postos atendidos exclusivamente por trabalhadores do Instituto Municipal da Estratégia de Saúde da Família (Imesf) amanheceram com portões fechados e cartazes que anunciam a paralisação dos profissionais nesta quarta-feira (9). Os profissionais protestam contra a extinção instituto, que acarretará na demissão de 1,8 mil profissionais.
A unidade Vila Gaúcha, no Morro Santa Tereza, tem cartazes colados nas grades do portão, selado por cadeados: "Estão querendo desestruturar nosso postinho, que atende em média 60 pessoas por dia, dentre eles gestantes, idosos, crianças, hipertensos, diabéticos, etc.", alerta o papel de protesto afixado na fachada da unidade.
— Se fechar, não vai sobrar nada pra nós. É o único meio que temos médico e remédio. Meu filho tem epilepsia, o posto que encaminha pra Santa casa. Onde é que vamos ir? — questiona a faxineira Janaína Freitas Fernandes, 31 anos.
Dos 140 postos de Porto Alegre, 77 são atendidos exclusivamente por trabalhadores do Imesf, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde no Estado (Sindisaúde-RS). Além disso, 139 dos 140 postos contam com trabalhadores do instituto. O sindicato estima que cerca de 50 postos de Porto Alegre tenham o funcionamento afetado com a paralisação. A Secretaria Municipal de Saúde informou que um balanço oficial das unidades afetadas deve ser divulgado ainda na manhã desta quarta-feira.
Outro local sem atendimento é a UBS Mato Sampaio, no bairro Bom Jesus, zona leste. Uma dezena de folhas de papel com a palavra "greve" se mistura a comunicados sobre os motivos do fechamento do posto. Outra placa orienta os profissionais sobre a mobilização convocada para a frente do paço municipal, iniciada às 8h.
— O que está ruim vai ficar pior — grita o segurança Abel Rodrigues, 39 anos, ao passar de moto ao lado do pequeno posto, em um beco do bairro.
Na Vila Safira, também na zona leste, o posto que leva o mesmo nome da comunidade tem cartazes que destacam a greve, justificando: "Não ao fechamento dos postos. Não às demissões".
Júlio Jesien, presidente eleito do Sindisaúde-RS, afirma que a greve "não agrada a categoria", mas que os profissionais "foram emperrados para ela". No dia 24 de setembro, o STF negou recurso da prefeitura que tentava a suspensão da determinação que declarou inconstitucional a lei que criou o Imesf a partir de determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) .
— É uma luta pela saúde publica de qualidade.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde diz reafirmar "seu papel de cumprir com o atendimento adequado para a população e declara não haver motivos para paralisação greve de profissionais". Segundo a pasta, "é um contrassenso quem diz que quer continuar atendendo a população deixar de atender para pleitear qualquer reivindicação".
Confira a nota da Secretaria Municipal de Saúde:
A Secretaria Municipal de Saúde reafirma seu papel de cumprir com o atendimento adequado para a população e declara não haver motivos para paralisação greve de profissionais do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (IMESF), uma vez que esta tem como motivação a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que declarou a inconstitucionalidade da lei que criou o IMESF a pedido dos próprios sindicatos, decisão esta referendada pelo Supremo Tribunal Federal. Assim, é um contrassenso quem diz que quer continuar atendendo a população deixar de atender para pleitear qualquer reivindicação. A secretaria não vai tolerar a descontinuidade do cumprimento do contrato ainda vigente e o fechamento de serviços de saúde, com consequente desassistência à população. Salienta-se que o modelo de atendimento que substituirá o IMESF não terá a greve como rotina, nem manterá a população refém de sindicatos e interesses corporativos.