O futuro da exploração do carvão mineral no Rio Grande do Sul, considerado uma espécie de "pré-sal" gaúcho, mas visto com desconfiança por ambientalistas, foi tema de um seminário que reuniu empresários, especialistas e autoridades nesta terça-feira (14).
O debate sobre o aproveitamento do carvão no Estado, que concentra 89% das reservas desse produto no país, ganhou intensidade em meio ao processo de licenciamento da maior mina brasileira prevista para ser instalada entre Charqueadas e Eldorado do Sul, na Região Metropolitana.
O encontro foi promovido pela Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul (Sergs). Antes do início do evento, no salão nobre do Hotel Plaza São Rafael, um grupo de manifestantes contrários à implantação da chamada Mina Guaíba nas proximidades do Rio Jacuí distribuiu panfletos na calçada. Sem a presença de ambientalistas na lista de palestrantes, o seminário se concentrou em mostrar o potencial econômico do carvão para o Estado e as novas tecnologias dedicadas a reduzir o impacto ambiental da extração e do uso desse material.
- A exploração do carvão é uma política estratégica do Estado. É como se fosse o nosso pré-sal. Os projetos em desenvolvimento aqui têm, todos, tecnologia de ponta para reduzir impactos ambientais e empresas da maior credibilidade - declarou o secretário-adjunto de Meio Ambiente e Infraestrutura, Paulo Pereira.
Um desses projetos, ainda em fase de obtenção da licença prévia junto à Fepam, é a Mina Guaíba. A partir dela, a intenção é desenvolver um polo carboquímico que, em vez de queimar o mineral para produção de eletricidade, converta carvão em gás natural sintético, ureia, amônia e metanol por um processo menos poluente.
Segundo o diretor de Novos Negócios da empresa Copelmi, Roberto Faria, a projeção inicial era de investir US$ 1,5 bilhão em uma planta de gaseificação, mas esse investimento poderia alcançar até US$ 2,6 bilhões conforme análises ainda em andamento. Seriam gerados ainda 1.154 empregos diretos. Ainda não há prazo para obtenção das licenças necessárias ou para o início de obras.
O seminário, coordenado pelo presidente da Sergs, Luis Roberto Ponte, também apresentou exemplos bem-sucedidos de gaseificação do carvão em países como a Alemanha. O promotor Daniel Martini, coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público, afirmou que o MP está acompanhando o processo de licenciamento da Mina Guaíba - mas ressaltou as falhas dos governos em planejar adequadamente esse tipo de investimento:
- O poder público falha ao não planejar, ao deixar para o empreendedor fazer zoneamento, e para a sociedade discutir o que pode ou não ser feito em um determinado lugar na hora de implantar o empreendimento. Todas essas questões tinham de ser resolvidas antes, por meio de planejamento, zoneamento.
Entidades ambientalistas como o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá), a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) e a União Pela Vida (UPV) já se manifestaram contra a exploração do carvão próximo ao Jacuí por temer danos ambientais.