Um dos temores envolvendo o projeto de exploração carbonífera na Região Metropolitana é de que os rejeitos pudessem formar algum tipo de barragem, ameaçando a população e a natureza a exemplo de tragédias recentes como as de Mariana e Brumadinho (MG). O setor técnico da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e a empresa responsável, a Copelmi, afirmam que não há barragem prevista no projeto da Mina Guaíba, a ser implantada entre os municípios de Eldorado do Sul e Charqueadas.
O estudo de impacto ambiental (EIA-Rima) estabelece que os rejeitos sejam enterrados nas próprias cavas abertas para extrair o carvão do solo a até cem metros de profundidade. Esse método permitiria recompor o terreno conforme a exploração avança.
Isso não quer dizer que não haveria qualquer transformação no relevo: o material inerte retirado do solo no início dos trabalhos seria empilhado, formando elevação de 21 a 26 metros no terreno. Esse platô de areia, argila e cascalho seria sólido, sem risco de "explodir" como a barragem de Brumadinho, e somaria 264 hectares de área.
Em Butiá, a 79 quilômetros da Capital, a Copelmi mantém uma mina de carvão com característica peculiar: há moradores vivendo a menos de cem metros do empreendimento. Os vizinhos dizem que, até agora, não perceberam transtornos decorrentes da operação.
– Moro aqui há um ano, nunca tivemos problema. Às vezes, percebemos um leve tremor (de detonações), mas não chega a atrapalhar. Dizem que antigamente incomodava um pouco mais. Também não tivemos problema com poluição até o momento – afirma a dona de casa Paula Cristina Gomes, 24 anos, uma das moradoras mais próximas do limite da mina B3.
O pedreiro Renaldo Castro, 48 anos, outro vizinho, também não tem queixas até agora:
– A gente sofre bastante com a poeira da estrada, mas da mina não chega a vazar nada para cá.
Fiergs destaca efeito econômico da Mina Guaíba
Criticado por ambientalistas, o projeto de implantação de polo carboquímico a partir da abertura de nova mina de carvão é considerado por empresários uma aposta estratégica para aliviar a crise econômica do Estado. Relatório da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) estima que a exploração do mineral e a conversão em gás natural sintético, ureia, amônia e metanol poderia acrescentar R$ 23 bilhões ao PIB gaúcho até 2042 e gerar 7,5 mil empregos.
– O Estado tem 90% das reservas de carvão do país, e esse recurso hoje é pouco explorado – sustenta o diretor da Fiergs e coordenador do Conselho Temático de Energia, Edilson Deitos.
A exploração do mineral é sustentada na Lei 15.047/2017, que instituiu a política estadual do carvão e criou o projeto do polo carboquímico. Essa medida é criticada pelo biólogo Paulo Brack:
– O carvão é um combustível fóssil contestado no mundo, um combustível do século passado com alto risco de contaminação.
O gerente de Sustentabilidade Corporativa da Copelmi, Cristiano Weber, afirma que o carvão extraído do solo gaúcho não seria queimado como em antigas termelétricas, mas gaseificado em equipamentos modernos e antipoluentes. O gás síntese, como é chamado, permitiria a conversão do produto para gás natural, fertilizantes para agroindústria e metanol.
– Temos limitação de fornecimento de gás porque o gasoduto afunila em direção aos Estados do Sul. Esse gás atenderia a uma demanda reprimida e ajudaria o Rio Grande do Sul a superar a crise – sustenta Weber.