A partir do ano que vem, a Escola Municipal Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, em Porto Alegre, não receberá novas matrículas para o Ensino Médio e cursos técnicos. A decisão foi comunicada pela prefeitura neste mês. Situação semelhante ocorre na escola Emílio Meyer, no bairro Medianeira, há alguns anos.
Os alunos matriculados não serão prejudicados, pois têm garantia e direito à conclusão do curso, conforme a prefeitura. Porém, novos alunos não serão aceitos.
Por semestre, a Liberato recebia mais de cem novas matrículas. Atualmente, a escola tem aproximadamente 600 alunos no Ensino Médio, no turno da noite, e chegou a oferecer, por algum tempo, cursos técnicos de contabilidade e informática. Atualmente, disponibiliza apenas o de administração.
— Interromper o vínculo significa um impacto desastroso para toda comunidade. Nós precisamos sensibilizar o poder público, pois precisamos manter esse jovem perto, especialmente em uma região de vulnerabilidade — explicou uma funcionária que não quis se identificar.
A Secretaria Municipal de Educação (Smed) informou aos pais, professores e alunos de que não haverá alterações na Educação Infantil, Ensino Fundamental, EJA e Magistério. E que, inclusive, a ideia é ampliar o número de vagas do magistério e EJA para 2020.
Após tomarem conhecimento das restrições para o próximo ano, moradores dos arredores da instituição estão mobilizados. Na sexta-passada, uma reunião com autoridades e a comunidade escolar foi realizada. Hoje, às 13h30min, em ato simbólico, eles darão um abraço na escola.
Preocupação entre as famílias
Sabrina Boff Wickbold, 35 anos, tem as filhas Margeori e Maynah Arancibia, de 16 e 13 anos, matriculadas na Liberato. Maynah está no nono ano do Ensino Fundamental e não conseguirá dar sequência aos estudos no colégio. Margeori também terá de abrir mão do curso técnico que pretendia fazer.
— Sempre foi uma referência para nós, uma ótima escola. Agora, a mais próxima será a Costa e Silva (também no Sarandi), o problema é que lá não oferecem médio à noite, e minha filha queria esse turno para poder trabalhar ou estagiar durante o dia. Eu, inclusive, tinha interesse em fazer o Técnico em Administração — lamenta Sabrina.
A dona de casa Gisele Machado, 37 anos, vive situação semelhante. O filho Davi Cardoso Machado, oito anos, está no terceiro ano e, apesar de ainda ter um longo caminho até o Ensino Médio, possivelmente não terá a chance de concluir os estudos na mesma escola.
— Sem o Ensino Médio da escola vai ficar difícil, pois era uma referência para gente. Eu mesma estudei a vida inteira ali — conclui.
Atualmente, a Liberato tem três turmas de 9º ano, totalizando 78 alunos, além de outros sete alunos de uma turma de progressão (alunos com distorção idade-série e com dificuldade de aprendizagem).
Emílio Meyer fechou técnico em 2018
Na Escola Municipal de Ensino Médio Emílio Meyer, no bairro Medianeira, a situação é semelhante. Há alguns anos já existe a orientação para não abrir novas turmas. A diferença é que a escola matricula os alunos, semestralmente, por disciplina. Então, sempre precisa disponibilizar vagas para os estudantes que reprovam e necessitam refazer alguma matéria. Com isso, segue mantendo o Ensino Médio, mesmo sem abrir novas turmas.
Até o ano passado, a instituição oferecia curso Técnico em Hospedagem, mas ele também foi encerrado. Assim como ocorre no bairro Sarandi, a escola tem muita procura por vagas. A instituição mais próxima é o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, o Julinho, no Santana. A Emílio Meyer recebe alunos de bairros como Restinga, Partenon e Cruzeiro, entre outros.
Responsabilidade é do Estado, diz secretaria
Procurada, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) informou que a decisão de não ofertar Ensino Médio e cursos técnicos nas duas escolas se deu pois a oferta desta etapa da educação básica é atribuição constitucional do governo do Estado. Além disso, o objetivo da mudança é a melhor organização administrativa e pedagógica.
A Smed informa, também, que irá manter a oferta do curso de Magistério (que forma professores) na Liberato Salzano Vieira da Cunha e na Emílio Meyer. Das 99 escolas da rede municipal de ensino, essas são as duas únicas a ofertar a modalidade. O Ensino Médio regular será mantido até a conclusão das turmas em andamento em ambas as escolas. A última turma deve se formar em 2021.
A Secretaria destaca que é grande a oferta de Ensino Médio em Porto Alegre.
“Nas proximidades da Liberato, há pelo menos cinco escolas públicas que o ofertam, e a região do bairro Medianeira conta com outras quatro”, detalhou o órgão em nota.
Proposta de gestão compartilhada
Na segunda-feira, uma reunião na Câmara de Vereadores de Porto Alegre debateu o assunto. Parlamentares e equipe da prefeitura decidiram propor ao Estado uma gestão compartilhada, na tentativa de manter o Ensino Médio nas escolas. Dessa forma, o município seguiria oferecendo a estrutura física e o governo estadual ficaria responsável pela contratação dos professores. A proposta ainda será encaminhada.