Um período extenuante de provas, entre outubro e novembro, aguarda milhares de estudantes gaúchos que estão concluindo o Ensino Médio. Com a antecipação de dois dos principais vestibulares de verão do Estado – o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) – para a mesma época do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), alunos em busca de uma vaga na faculdade vão enfrentar uma maratona de processos seletivos em um momento no qual também estarão às voltas com os exames finais para garantir o diploma do secundário.
Até o ano passado, o Enem ocorria no começo de novembro; o vestibular da PUCRS, por volta do início de dezembro; e o da UFRGS, apenas em janeiro. Havia tempo para relaxar entre cada um deles e fazer uma preparação direcionada. Neste ano, os três exames ocorrerão em cinco de seis fins de semana consecutivos, entre 27 de outubro e 1º de dezembro. Os estudantes vão ter de estar prontos para todos eles já em outubro. E escolas e cursinhos terão de adaptar seus cronogramas.
Para complicar, a expectativa é de que outras universidades privadas – inclusive de grande porte – anunciem em breve a migração de seus vestibulares para o período. Essa revolução no calendário foi desencadeada no fim do ano passado, quando a UFRGS anunciou que seu tradicional vestibular de verão, o mais disputado do Estado, que ocorreria em janeiro de 2020, passaria a ser realizado em 23, 24 e 30 de novembro e 1º de dezembro de 2019. A justificativa foi a necessidade de um prazo maior para a homologação dos aprovados, processo que se tornou mais complexo devido à adoção do sistema de cotas na federal.
A decisão da UFRGS tinha potencial para gerar um efeito cascata. Primeiro, porque as novas datas coincidiam com o período tradicional do vestibular de instituições privadas importantes, como a própria PUCRS, forçando uma migração. Além disso, quase todas as particulares gaúchas adotam a estratégia de promover seus concursos previamente ao da UFRGS – acredita-se que, com isso, mais gente participa, o que aumenta a chance da criação de um banco de aprovados que, depois, ajuda a preencher as vagas disponíveis.
Nossa opção foi por adiantar, porque se fizéssemos após a UFRGS seria muito tarde, quase Natal, e quanto mais tarde pior é para os alunos. Conversamos com os cursinhos e eles nos falaram que no final de outubro os alunos já estão bem preparados, porque têm o Enem no fim de semana seguinte.
ANA BENSO
Diretora acadêmico-Administrativa da PUCRS
A primeira a se movimentar, na semana passada, foi a PUCRS, antecipando o vestibular para 27 de outubro. Para dois fins de semana seguintes, estava marcado o Enem.
– Nossa opção foi por adiantar, porque se fizéssemos após a UFRGS, seria muito tarde, e quanto mais tarde pior é para os alunos. Conversamos com os cursinhos e eles nos falaram que, no final de outubro, os alunos já estão bem preparados, porque têm o Enem no fim de semana seguinte – diz Ana Benso, diretora acadêmico-Administrativa da PUCRS.
As consequências da aglomeração de provas serão sentidas com intensidade pelos estudantes, que atravessarão um período superior a um mês de estresse e pouca oportunidade para relaxar. Segundo Tania Marques, professora de Psicologia da Educação da UFRGS, as condições são prejudiciais até mesmo para o aprendizado, porque o cérebro exige descanso para consolidar memórias:
– É fisicamente cansativo. O estudante terá atividade na escola durante a semana e, no fim de semana, não descansa, porque tem os exames. Também é um estresse emocional, porque envolve muita cobrança.
Fica fisicamente cansativo. O estudante vai ter atividade na escola durante a semana e aí, no fim de semana, não descansa, porque tem os exames. Também é um estresse emocional, porque envolve muita cobrança.
TANIA MARQUES
Professora de Psicologia da Educação da UFRGS
Fabrício Indrusiak, da direção do Grupo Unificado, que mantém curso pré-vestibular e escola, revela que os alunos têm manifestado preocupação com a concentração das provas. Ele prevê que os candidatos cheguem exaustos ao vestibular da UFRGS. A preparação, no entanto, não sofre grandes mudanças. Como o Enem tem ocorrido tradicionalmente no princípio de novembro, escolas e cursinhos já se reorganizaram para chegar em outubro com os alunos prontos. Além disso, diz Indrusiak, não há diferença significativa entre o que é cobrado no Enem e nos vestibulares – preparar-se para um já é preparar-se para os outros.
No caso dos cursinhos, o que muda é o fim da revisão para o vestibular da UFRGS, que ocorria entre dezembro e janeiro, e a necessidade de antecipar em uma semana a conclusão da preparação – pois os alunos devem estar prontos sete dias antes do Enem, por causa da nova data da prova da PUCRS.
Calendário escolar fica apertado
Complicação maior é o caso do colégios de Ensino Médio. O novo período de Enem e vestibulares colide com as provas de fim de ano. As escolas estão quebrando a cabeça para não prejudicarem em demasia os alunos.
– Ainda não conseguimos fechar um calendário razoável de encerramento das aulas. Não tem muita solução, porque, se colocar antes, não cumpre os 200 dias letivos obrigatórios, se colocar depois, vai ter recuperação em janeiro. As provas trimestrais vão ter de ser junto com as do vestibular. Temos de ir preparando psicologicamente os alunos – afirma Fabrício Indrusiak, do Unificado.
Não tem muita solução, porque, se colocar antes, não cumpre os 200 dias letivos obrigatórios, e, se colocar depois, vai ter recuperação em janeiro. Não tem muito jeito, não. As provas trimestrais vão ter de ser junto com as do vestibular.
FABRÍCIO INDRUSIAK
Integrante da direção do Grupo Unificado
Lucas Bitencourt, orientador educacional do Colégio Dom Bosco, na Capital, diz que a instituição terá cuidado extra na hora de definir as datas das provas de fim de ano, para evitar sobrecarga, mas entende que a principal mudança vai ser a forma como os professores vão trabalhar durante o período em que os vestibulares e o Enem estão concentrados. O foco em sala de aula será na preparação para as provas que ocorrem nos fins de semana:
– Não vamos fechar os olhos e fingir que todo esse movimento externo não existe.
Levantamento do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS) indica que outras instituições da Capital procuram se adaptar. O Colégio Bom Conselho anunciou que vai reorganizar seu calendário, assim como o Colégio Rosário. O Colégio Israelita informou que, como
o Enem ocorre em novembro, já havia modificado o currículo e criado estratégias para antecipar a preparação dos alunos.