Edson ia até a Getúlio Vargas com os cruzados novos contados para o rodízio e um refri. Enquanto os garçons passavam, suados, oferecendo a "de calabresa que é uma beleza" e a de "palmito para ficar bonito", competia com os vizinhos da rua e os colegas de aula para ver quem comia mais fatias.
— Era diferente. Tudo era muito diferente — conta.
Hoje com 42 anos, o advogado Edson Berwanger tem dificuldade de explicar por que, na sua opinião, não há mais pizzarias como a Chuca. Um império construído com massa fininha e piadinhas dos garçons, a rede é símbolo de uma Porto Alegre que não existe mais. Acabou com a virada do século — a última loja, da Protásio Alves, fechou as portas em 2001.
O começo dessa história remonta a 1978. Um anúncio em ZH chamava a freguesia para conhecer "a mais nova namorada do portinho", na Venâncio Aires, 562. Depois viria a Chuca II, na Getúlio Vargas (perto da José de Alencar), a III, na Jerônimo de Ornelas, a IV, também na Getúlio (perto da General Caldwell), a V, na Protásio Alves, e a VI, na Doutor Timóteo. Atravessou a divisa do Rio Grande do Sul e chegou a Florianópolis (SC). E teve até uma opção mais gourmetizada, no Moinhos de Vento, o bistrô Chuca Happy.
O dono, Márcio Floriano, não foi o pioneiro na implantação do sistema de rodízio de pizzas na Capital, mas foi crucial para a popularização dele. O então tesoureiro do Cemitério João XXIII procurou o chefe de vendas de uma loja de móveis e equipamentos para restaurantes e conseguiu comprar todo o material para pagar em parcelas, com o dinheiro que esperava ganhar. Três anos depois, não devia mais um tostão do investimento inicial. A inspiração para o nome veio do apelido do sobrinho dele, que nascera gorducho, com mais de cinco quilos.
O atendimento descontraído era uma das marcas da rede Chuca. Além das piadinhas para "vender" um sabor, os garçons faziam mágica com o guardanapo e repetiam pegadinhas como o truque do ketchup. Quando alguém pedia para alcançarem o condimento, eles apertavam uma bisnaga falsa em direção à camisa limpa do cliente, que quase infartava antes de reparar que o "líquido" que espirrava era, na verdade, um canudinho vermelho.
O comunicador Alexandre Fetter é um dos órfãos desse atendimento. Ele frequentava no aniversário dos amigos — aniversariante não pagava —, e hoje fica na vontade lembrando das pizzas preferidas: estrogonofe, coração e milho. Com quase 200 funcionários, a Chuca oferecia mais de 40 sabores. A família Floriano reivindica a autoria da mafiosa, com berinjela e calabresa forte.
O declínio ocorreu na década de 1990, por uma soma de fatores, como lembra o filho do dono e hoje advogado Márcio Floriano Júnior, 35 anos. Seu pai fez um investimento em um prédio administrativo, que tinha também padaria para as massas, lavanderia própria para as toalhas de mesa e cozinha industrial para a fabricação do molho. Ao mesmo tempo, respondia a processos trabalhistas e sofria com a multiplicação de pizzarias mais baratas na região da Avenida Cristóvão Colombo.
— Foi o início do fim, porque ele não conseguia praticar esse preço e pagar o investimento no prédio com o alto custo da qualidade da Chuca — relata.
Floriano Júnior conta que o pai chegou a entrar em depressão com o término das atividades. Em 2009, sofreu um AVC e ficou 10 anos em estado vegetativo. Morreu em março deste ano.
O nome da rede de pizzarias ficou tão forte que acabou virando o apelido do advogado, e o faz lembrar de um tempo bom:
— Dá saudades. Foi um grande momento da nossa vida, da nossa família, da época em que o pai tinha saúde.