Concentrado, o motorista de aplicativo Márcio Espíndola, 42 anos, pisava repetidas vezes no acelerador tentando fazer pegar o carro que apagou em frente ao número 18 da Rua General Vitorino. Custou a olhar para o prédio ao seu lado, mas quando bateu o olho no letreiro não segurou a risada. Nunca tinha ouvido falar da Lancheria Pirirí.
— É engraçado — admitiu. — Mas eu não teria problema nenhum em entrar, é bonita, apresentável.
Apesar do "nome desencorajador" — como definiu uma cliente no TripAdvisor —, a Pirirí é um estabelecimento tradicional de Porto Alegre: existe desde 1964. É uma das lanchonetes raiz que sobreviveram no Centro Histórico, com os bancos do balcão combinando com as mesas laranjas e cafezinho no copo de vidro a R$ 2,50. Também tem croquete, coxinha, bolo de carne (todos R$ 4,50), prato feito (R$ 17) e pelo menos seis variedades de sucos naturais servidos em uma jarra por R$ 6 ou R$ 7,50.
— E são feitos com água mineral, não da torneira — faz questão de acrescentar o dono, Clovis Gonçalves da Silva, 51 anos.
O nome do estabelecimento surgiu antes mesmo de Silva nascer. O que ele sabe é que existia ali uma lanchonete chamada Fiorentina, que não era muito conhecida, e os donos na época quiseram escolher um nome que chamasse mais atenção. Ele ouviu falar que Pirirí é o nome de um pássaro — em regiões da Bahia, a codorna-amarela é chamada popularmente assim. E o dicionário Priberam também revela que é como se chama um arbusto cujos ramos são usados para fazer tubos de cachimbo.
A definição mais chula da palavra, que também está no dicionário ("fezes líquidas ou quase líquidas; Diarreia"), Clovis prefere ignorar.
— Quem usa esse termo é paulista, para gaúcho não significa nada — relativiza.
Ele conta que o estabelecimento mudou várias vezes de dono, mas não de nome. É seu ganha-pão há 24 anos. Assumiu algum tempo depois de vir de Santo Antônio da Patrulha para trabalhar na Capital, como açougueiro no Mercado Público. Tem nove funcionários hoje, mas mesmo assim trabalha sempre, de segunda a sábado. Até está encaminhando sua aposentadoria, mas deve continuar com a Pirirí para investir na educação das filhas — uma está no sétimo ano e outra estuda para o vestibular de Odontologia.
Quando peço para experimentar o carro-chefe da casa, Silva providencia um pastel de carne e outro de frango feitos na hora, ambos com pedaços de ovo e tempero verde dentro. O de frango parece ser um risole, mas é de pastelina mesmo, empanado — ele me proíbe de divulgar seu segredo.
Silva conta que um ou outro cliente já tentou zombar do nome do estabelecimento, mas garante que leva na brincadeira. Qualidade, ele garante que seus produtos têm:
— A gente sempre tem que procurar fazer o melhor. Poucos comércios se mantêm tanto tempo. Muitos já abriram aqui na volta e fecharam.
O lanche, bem reforçado, diga-se, junto com a jarra de suco de abacaxi, custou R$ 14. A repórter passa bem.