
A prefeitura de Guaíba interditou, nesta terça-feira (22), tanques de uma empresa de reciclagem de garrafas PET alegando descarte irregular de produtos químicos em rede ligada ao Arroio Passo Fundo. De acordo com nota divulgada à imprensa, a MasterFlake, localizada às margens da BR-116, foi multada em R$ 32 mil e precisará fazer o desligamento de todos os canos com acesso à rede fluvial. A empresa alega que o líquido flagrado pela prefeitura advém das pias do prédio.
Por ordem do prefeito José Sperotto, a Secretaria de Agricultura e do Meio Ambiente de Guaíba investiga, desde o final do ano passado, empresas que poderiam estar lançando efluentes industrias no Arroio Passo Fundo. Perto da foz, o córrego de 24 quilômetros adquire um tom preto e odor forte que provoca náuseas e vizinhos acreditam que a água origina a corrosão acelerada de metais na região. Como mostrou reportagem publicada no dia 10 por GaúchaZH, moradores e o próprio prefeito nunca aceitaram os resultados de análises da Fepam, que apontam para o esgoto doméstico como o principal culpado pela poluição.
A empresa é licenciada pela prefeitura e realiza o serviço em Guaíba desde 2010. A assessoria de imprensa da prefeitura informa que fiscais e técnicos fizeram vídeos e fotos que "mostram claramente a coloração do líquido na rede fluvial: água preta e por vezes mais clara, mas ainda bastante oleosa".
Sperotto afirma que as equipes investigam a MasterFlake desde novembro, inclusive durante a madrugada e feriados. O prefeito não especifica quais produtos seriam largados pela empresa na rede pluvial — diz que soda cáustica era "Ki-Suco" entre os produtos químicos utilizados. Não foi foi feita a análise, mas a cor e o odor já indicam a presença de produtos químicos, segundo a prefeitura.
Ele afirma que a prefeitura continuará investigando empresas — adianta que há uma outra suspeita, sem revelar mais detalhes — e culpa, em grande parte, a MasterFlake pelo estado do Arroio Passo Fundo.

De acordo com Diego Ferreira, diretor da MasterFlake, a empresa nem chega a utilizar produtos químicos. Ele relata que o negócio consiste em moer o plástico e vender o produto que resulta dessa fase (o floco da garrafa). Segundo ele, é apenas utilizado detergente para fazer a limpeza das garrafas. O excedente dessa limpeza é uma espécie de lodo, que, de acordo com Ferreira, poderia até mesmo ser utilizado para compostagem. Segundo Ferreira, não há despejo desse efluente na rede fluvial: afirma que são armazenados e recolhidos por empresas credenciadas pela Fepam.
A empresa alega ter constatado que o líquido que deságua na rede fluvial advém das pias do imóvel a partir de um teste com um produto amarelo nesta terça — foi despejado no ralo dentro do prédio e apareceu na ligação com a rede pluvial.
— Vamos comprovar administrativamente que não tem nenhuma irregularidade —afirma.
A Fepam afirma que não tem, no sistema, denúncias contra essa empresa. Com relação à poluição do Arroio Passo Fundo, o chefe da Divisão de Fiscalização Ambiental da Fepam, Juarez Löff, informa que não foi constatado o lançamento de efluentes industriais causando alteração da coloração do curso hídrico e odores nas últimas fiscalizações e lembra que a análise da água realizada em dezembro evidenciou o aporte de esgoto sanitário. Mas pondera:
— A gente sabe que podem haver lançamentos clandestinos (por parte de indústrias), então seguimos monitorando a qualidade da água desse arroio.