Ocorrido tradicionalmente na última sexta-feira de cada mês, o Massa Crítica teve uma edição extra na noite desta quarta-feira (31) por um motivo triste. Com balões brancos atrelados às bicicletas, o grupo de ciclistas, skatistas e patinadores que se apresenta como um movimento em prol de um trânsito mais inclusivo pedalou, desta vez, para lembrar o crime de trânsito que matou Débora Cristiane Saliba, de 42 anos, em 20 de outubro, na Avenida Cavalhada, e pedir justiça.
Os ciclistas aproveitaram a ocasião para distribuir a motoristas pelo caminho rosas brancas e um panfleto pedindo "cuidado e segurança" na direção. "Ciclista experiente, a Saliba sempre andava com os equipamentos corretos e sabia sinalizar suas intenções no trânsito, foi vítima da imprudência de um motorista. Nos despedimos de uma amiga, uma mãe, uma filha, uma profissional, uma ciclista que vai deixar saudades", diz um trecho do texto.
Na concentração do evento, o namorado de Débora, Everton Rodrigues Alves, 52 anos, reforçou a prudência dela, relatando que ela tinha uma postura defensiva no trânsito.
— Acontecer justamente com ela, que tomava muito cuidado, é especialmente dolorido. O sentimento é de revolta. O que esse cara fez foi um assassinato — diz Everton, que conheceu Débora em uma loja de peças de bicicletas.
Muito emocionado, o amigo Fábio Cruz, 53 anos, levou para o evento o capacete que Débora usava quando foi atropelada, enquanto Josiane Barcuti, 39 anos, também muito próxima da vítima, relatava que era a primeira vez que conseguia sair de casa de bicicleta após a data do acidente.
— O sentimento é misto: num dia, é de revolta, no outro, de medo, no outro, saudade.
Com gritos de "Saliba presente" e "não foi acidente", cerca de 300 ciclistas partiram do Largo Zumbi dos Palmares, na região central da Capital, em direção à Avenida Cavalhada, na Zona Sul, pegando chuva no caminho. Em um poste próximo ao local do ocorrido (na altura do número 3.205), penduraram uma "ghost bike": uma bicicleta branca para simbolizar a vida ceifada no local e se tornar um monumento e um alerta por paz no trânsito. Houve um minuto de silêncio, uma oração e palmas para a ciclista vitimada no local.
Mãe de dois filhos, Débora trabalhava em uma loja de departamento na Avenida Eduardo Prado, na Zona Sul, para a qual estaria se dirigindo no momento da colisão, às 8h de um sábado. A bicicleta trafegava pela faixa da direita da Avenida Cavalhada quando foi atingida por um Corsa branco. O corpo de Débora se chocou contra a frente do veículo enquanto a bicicleta foi arremessada contra um poste. O motorista do carro fugiu pela Rua Dr. Mário Totta e não prestou socorro. O veículo foi localizado pela polícia a cerca de um quilômetro do local, na Rua Liberal.
No final da tarde de sábado, o motorista chegou a registrar uma ocorrência falsa de furto do veículo. Na segunda-feira, ele e seu advogado se apresentaram à polícia. O condutor admitiu ter mentido sobre o furto e confessou estar ao volante no momento do choque. Segundo a nova versão, o atropelamento ocorreu em meio a um mal-estar. De acordo com o delegado Gabriel Bicca, responsável pela Delegacia de Homicídios de Trânsito, a polícia aguarda o resultado de perícias para concluir o inquérito sobre o caso. O nome do atropelador foi preservado pela polícia, que o descreveu como um homem de 30 anos com a CNH em dia, sem antecedentes e com emprego fixo.
O motorista deverá responder, conforme o Código de Trânsito Brasileiro, por homicídio culposo de trânsito — com pena prevista de cinco a oito anos de reclusão —, omissão de socorro — que prevê detenção de um a seis meses ou multa, e falsa comunicação de crime, cuja pena é de detenção de um a seis meses ou multa conforme o Código Penal.