Onze equipes de cinco Estados competiram no maior evento LGBT+ de vôlei do sul do país: o GayPrix 2018. A competição ocorreu de sexta a domingo no Sesc Protásio Alves, em Porto Alegre, e teve como grande vencedor o time Magia, de Porto Alegre. POCs, de Caxias do Sul, foi o vice-campeão.
Mais um passo na luta contra o preconceito, o evento inédito nasceu com o objetivo de organizar uma agenda nacional de voleibol com times LGBT+, reforçando a bandeira da diversidade e dando confiança aos jogadores.
A principal premiação foi um troféu rotativo _ que irá grafar o nome dos vencedores a cada ano do evento _ mas o espírito do campeonato não foi exatamente de disputa ou rivalidade. Pelo contrário, o que se quer é reunir e empoderar os participantes. E, para simbolizar isso, além do evidente clima de empatia entre as equipes, cada um dos participantes recebeu uma medalha no final dos jogos:
– Todo mundo tem que sair daqui com a sensação de que faz parte disso, e é isso que essa medalha significa. Estar aqui já é uma vitória para muitos participantes – explica Thiago Bronze, 29 anos, da diretoria da PampaCats, a equipe anfitriã de Porto Alegre e integrante da comissão organizadora.
Além da PampaCats, outras quatro equipes são da Capital: Magia, Avalon, Maragatos e Fireballs. Também entre os times gaúchos estão POCs (Caxias do Sul) e Thunders (Novo Hamburgo). De fora do Estado, participaram os Bharbixas (Belo Horizonte/MG), Beescats (Rio de Janeiro/RJ), Sereyos (Florianópolis/SC) e Capivara (Curitiba/PR).
Entre os competidores, muitos partilham histórias de prática esportiva em clubes com equipes heterossexuais onde se sentiam discriminados e enfrentavam piadinhas. Tinham medo e receio de se expressar.
– As vezes não é nem o que a pessoa fala, mas o olhar julgador. Só com o olhar, ela já mostra o preconceito – explica o vestibulando Felipe Fortunado, 21 anos, que joga vôlei desde os 13 anos.
Há cinco meses, ele compõe a equipe Magia – criada há 13 anos – onde não precisa monitorar o próprio comportamento por medo de não poder ser quem é:
– Aqui o entrosamento é completamente diferente. A gente se sente numa família. E o propósito é esse: não julgar, não ofender e não excluir.
Técnico e coordenador da equipe Magia, Pablo Acosta explica que muitos competidores voltam a praticar esportes – ou o descobrem – por meio dos times LGBT+. E o próprio GayPrix é uma oportunidade para demarcar espaço, lutar contra a intolerância e dar confiança a quem é apaixonado pelo esporte.
Torcida e apoio familiar
Natural de Ilhéus (BA), Thiago Bronze explica que sempre gostou do esporte, porém, só se sentiu à vontade para jogar e fazer parte de uma equipe em Porto Alegre, quando passou a integrar o PampaCats. Ele vive há dois anos na Capital e faz doutorado em Engenharia de Produção. O vôlei passou a fazer parte da sua vida quando ele encontrou um grupo em que se sente bem:
– Eu fazia natação, que é um esporte individual, e mesmo assim tinha vergonha de andar em volta da piscina por achar que alguém pudesse estranhar meu jeito de caminhar. Muitas pessoas só se assumem depois de entrar no time. Nunca joguei vôlei fora, só tive coragem de jogar aqui.
Nas arquibancadas, junto com as bandeiras de arco-íris, famílias e amigos se uniam para incentivar os times. Na torcida do PampaCats, uma das mais empolgadas era a cuidadora de idosos Valníbia Rapaki, 59 anos, mãe do jogador Kyenan, 21 anos. O apoio incontestável, com a presença em todos os treinos da equipe com direito a bolo e doces para a gurizada, lhe rendeu o apelido de "Pampa Mãe":
– Meu filho se sentiu em casa e eu decidi acompanhá-lo. Me apaixonei por todos eles. Não tem como não estar feliz, vendo meu filho feliz. É muito importante para eles verem que a família os apoia. Fico sem voz depois dos jogos, de tanto que torço.