A polêmica envolvendo a exposição "Senzala", do Piquete Aporreados do 38, no Acampamento Farroupilha de Porto Alegre, criou uma oportunidade para o diálogo entre líderes dos movimentos negro e tradicionalista. Nesta terça-feira (18), representantes do Conselho Municipal de Direitos do Povo Negro de Porto Alegre, do piquete e do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), se reuniram no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho para definir o que será feito no espaço – fechado a visitações na tarde de segunda-feira (17).
Na avalição da coordenadora municipal de Igualdade Racial, Elisete Moretto, o episódio negativo oportunizou a aproximação entre a comunidade negra e as entidades tradicionalistas. Ela considerou o encontro como oportuno e positivo para ambos os lados.
– É um momento histórico, no qual negros e não-negros se reúnem para tratar sobre o negro como parte da construção da identidade gaúcha. A partir da integração e do diálogo, uma porta que não estava aberta se abriu para os negros no tradicionalismo _ analisou Elisete.
A partir da reunião, ficou decidido que uma exposição totalmente remodelada será montada em conjunto com os representantes dos negros e a coordenação do piquete. Entidades do Movimento Social Negro ficaram responsáveis por fornecerem os materiais e elementos que serão exibidos no local. Elisete não quis revelar os detalhes do novo espaço _que reabrirá nesta quarta-feira, às 19h –mas demonstrou confiança no resultado pretendido:
– Será algo bem inclusivo, juntando negros e não negros na luta por essa igualdade que tanto buscamos – comentou.
Também foram definidas futuras ações que deverão ser implementadas após o final dos festejos farroupilhas. Uma delas é a produção de um livro que tratará sobre o papel do negro na história do Rio Grande do Sul e nas tradições gaúchas.
O presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho, Nairo Callegari também avaliou a reunião como positiva. Ele ainda considerou que o encontro será proveitoso para outros piquetes que trabalham o tema do negro: Mocambo (onde foi realizado o encontro) e Lanceiros Negros.
– Foi muito boa essa aproximação entre as instituições. Quebramos uma barreira e aprendemos a tratar de um tema que precisa ser falado – considerou.
Coordenador do Aporreados do 38, Cleonilton Almeida afirmou que todos os elementos da exposição antiga – incluindo os manequins negros e os equipamentos de tortura – foram retirados do local, ainda na manhã de terça-feira. Os únicos objetos que fazem referência aos negros e que permanecerão são as lanças, fixadas nas janelas do galpão.
Cleonilton voltou a dizer que a intenção da atividade nunca foi de promover o racismo, mas de enaltecer a figura do negro na Revolução Farroupilha, porém, que não contava com as diferentes interpretações que poderiam surgir. Também afirmou acreditar que o propósito inicial ficará mais claro com o trabalho realizado em conjunto com a Coordenadoria Municipal de Igualdade Racial.
– Certamente, as comunidades negras trarão um olhar mais sensível sobre aquilo que queremos mostrar, que é a participação do negro na história do nosso estado – reconheceu.
Segundo o coordenador, as visitas guiadas continuarão ocorrendo no piquete de hora em hora.
O Núcleo das Comunidades Indígenas e Minorias Étnicas do Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul esteve no local ainda na segunda-feira (17), quando conversou com os organizadores do piquete. Em nota, informou que instaurou um procedimento extrajudicial para acompanhar o caso.