Em seu depoimento ao Ministério Público, Ivsem Gonçalves contou como surgiu a ideia de usar o nome de Alexandre Marc Klejner, uma criança que morreu em 1961, para desviar dinheiro da Carris.
Ivsem foi denunciado pelo MP e responde na Justiça por peculato, falsidade de documento público, uso de documento falso e lavagem de dinheiro — pelo último delito, sua filha Hellen Gonçalves também é ré.
— Lembrei de um filme que vi em 83, 84, que tinha uma mulher que era espancada pelo marido, um filme americano. Havia uma entidade que ajudava essas pessoas (vítimas de violência) a fugir, e falsificavam documentação indo a cemitérios e pegando documentação de pessoas mortas — relatou ao promotor Flávio Duarte.
Conforme o ex-funcionário da Carris, que entre 2014 e 2017 ocupou os cargos de coordenador de almoxarifado e coordenador financeiro, o uso do nome de Alexandre começou a ser utilizado bem antes do ingresso na companhia de ônibus. Segundo ele, a empresa que herdou do pai nos anos 80 enfrentou dificuldades financeiras em decorrência dos planos Verão e Collor:
— Fiquei sem crédito para comprar uma bala na esquina. Com filhos pequenos, colégio, educação, alimentação.
Ao lembrar do filme que diz ter assistido na década de 80, Ivsem foi ao Cemitério São Miguel e Almas, em 1995, para escolher um nome. Ele contou ter procurado alguém que tivesse nascido em data semelhante a dele. Depois de escolher Klejner, foi ao cartório e emitiu certidão de nascimento. Apesar de o sistema de identificação não ser informatizado naquela época, Ivsem não quis arriscar ser descoberto pelas impressões digitais: decidiu emitir a carteira de identidade em Santa Catarina, em 1996.
Com a nova identidade, abriu conta em banco, emitiu cartão de crédito, comprou carro e diz ter pago dívidas.
— Para a maioria das pessoas, o Alexandre era um sócio que eu tinha. Meus filhos acreditavam que era uma pessoa com quem eu tinha negócios — explicou.
Ivsem admitiu ter usado a identidade entre 1996 e 2000. Até começar a fraude na Carris, teria ficado sem fazer uso do nome da criança, tendo apenas mantido conta em banco e cartão de crédito em nome de Alexandre Marc Klejner. Nesse período, como o banco em que tinha conta foi comprado, chegou até a fazer renovação dos dados.