A visita mais aguardada na Unidade de Oncologia Pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre entra na sala de recreação abanando o rabo. O vira-lata Buzz cai direto no afago de Estevão do Amaral Mello, oito anos, um dos seus velhos amigos — o menino frequenta o hospital há um ano e meio para tratamento de leucemia.
— Dá a pata — pede Estevão, soltando o riso depois de ver seu comando atendido.
Junto do adestrador Jone Cardoso, o cão de 10 anos é a estrela de um projeto desenvolvido desde 2016 pela empresa Hercosul e pelo Instituto do Câncer Infantil (ICI) na sede da instituição e nos hospitais Conceição, São Lucas da PUCRS e Clínicas, onde ocorreu o encontro de quarta-feira (25). A "Pet terapia" faz sucesso entre crianças e adolescentes.
— Ele (Estevão) pergunta quando o cachorro vai vir e sente até falta — conta a mãe, Cristina do Amaral Mello, 34 anos. — As crianças sentem o afeto do cachorro.
Buzz "adivinha" a idade dos pacientes em latidas, posa comportado para fotos e rola uma, duas, três vezes _ sempre que alguma criança pede. Tamiris da Rosa, sete anos, cobre os olhos do cachorro com as mãos para que ele não veja sob qual copo plástico estão escondendo um biscoitinho. Na sequência, Cardoso ensina a palavra mágica ("busca!") e Buzz se apressa para tentar encontrar o petisco.
Marina Freitas de Mendonça, 11 anos, conseguiu matar a saudade de cachorro — está há 27 dias internada e longe de seus quatro animais de estimação. Assim como Marina, Kauan Cardoso Machado, 14 anos, conheceu Buzz na semana passada e achou ele "muito fofo".
— Por aqui não é muito fácil, então, ter uma distração dessas é muito bom. É um motivo para alegrar o dia — diz Kauan, que, em razão de uma síndrome, aguarda seu segundo transplante de medula.
Cardoso afirma que a interação com o cachorro aumenta a autoestima das crianças, especialmente pela possibilidade de elas mesmas darem os comandos. Ao final de meia hora de atividade, o suor escorre pelo rosto do adestrador.
— Eu me empolgo — admite.
Para não prejudicar a saúde das crianças, há uma série de cuidados tomados com Buzz, relata o adestrador. Além da vacinação em dia e de análises veterinárias periódicas, o cachorro toma banho antes de cada visita e tem as patas higienizadas antes de entrar na caixa de transporte — que também é lavada. Até mesmo a guia é limpa com água sanitária. Supervisora da sala de recreação, Caroline Panceri acrescenta que o Buzz é o único cachorro permitido atualmente no local, e funcionários passam álcool gel nas mãos das crianças após cada interação.