Quando a gestora administrativa da Casa de Apoio Madre Ana, Adriane Barboza, anunciou que a decoração já estava pronta no subsolo do prédio, a pequena Maria Luiza da Silva Ribeiro, cinco anos, pulou no botão do elevador.
— Vamos lá! — ordenou, determinada, puxando a avó pelo braço.
A menina já havia esperado demais pela festa de aniversário: oito meses. Em julho, Maria Luiza participou de uma festa de 15 anos no prédio que acolhe pacientes da Santa Casa, no centro de Porto Alegre. Desde então, sempre que vinha de Caxias do Sul, onde mora, para o tratamento contra leucemia no Hospital da Criança Santo Antônio, tentava enganar a equipe da casa de apoio dizendo que era seu aniversário.
— Isso foi em agosto, setembro, outubro, e eu dizia: "tá nada, é só em março". Finalmente, na última semana de fevereiro, começou a mobilização do pessoal da casa para a festa — conta Adriana.
Foram encomendados o bolo e os docinhos. Hóspedes da casa foram convidados. Mas no dia 5, na véspera da festa, a menina teve febre alta e precisou ser internada. Para que ela soubesse que a proposta da comemoração continuava de pé e ficasse motivada para encarar mais uma temporada no hospital, Adriane levou convites para Maria Luiza ajudar a preencher. A data ficou em branco, pois dependeria de quando ela receberia alta — o que ocorreu nove dias depois da internação.
Na tarde desta terça-feira (20), Maria Luiza usou um vestido brilhante com a imagem da sua personagem favorita de Frozen, a Elsa. Com as unhas pintadas de azul cintilante, entrou encabulada no refeitório da casa de apoio, onde lhe esperavam uma mesa com bolo, guardanapos, chapeuzinhos, pôster e bonecos de Frozen. Também tinha docinhos, torta fria, pastel e bolo.
— E tem cachorro-quente — cochichou, sorrindo, no ouvido da avó.
Lá pelas tantas, a peruca deu lugar a um lacinho que acabara de ganhar de presente, e o vestido também foi trocado porque pinicava. Mas a menina só se soltou de verdade quando alguém lembrou de colocar no smartphone a trilha sonora do filme que serviu de tema à festa. Com um sorriso de orelha a orelha, ela dançou até cansar — ou melhor, até seu par na dança cansar.
Pedia para a música tocar de novo, de novo e de novo. Nem aparentava estar em meio a um tratamento com quimioterapia — havia, inclusive, realizado sessão pela manhã.
— Não chorei — gaba-se a menina.
A avó, ou melhor, "mãe-avó", de acordo com correção feita pela própria Maria Luiza à repórter, atesta a força e a coragem da pequena:
— Se fosse uma pessoa adulta, não ia aguentar o que ela aguenta. Ela nunca se entrega — atesta Maria Cleusa Oliveira da Silva, 58 anos, que deixou o emprego como auxiliar de restaurante para cuidar da menina após o diagnóstico, em maio do ano passado.
Com sua animação, Maria Luiza virou atração no hospital. A avó conta que os médicos iam até o quarto para vê-la cantar usando uma Barbie como microfone. A menina diz que quer ser música quando crescer. Seu sonho é ter uma gaita, afirma a avó, instrumento que viu certa vez na igreja, e a sua preferência musical é improvável: gosta de Luiz Caldas, famoso na década de 1980 e conhecido como "o pai do axé music".
Adriane ressalta que, em eventos como o desta terça-feira, forma-se uma rede de solidariedade na casa de apoio. Funcionários prepararam a comida, um médico pagou as despesas, voluntários encheram os balões, e teve hóspedes da casa que almoçaram rapidinho para dar tempo de comprar um presente para a garota.
— Essa demonstração de carinho entre as pessoas da casa não tem preço — diz Adriane.