Distante dos gabinetes oficiais, numa das regiões mais carentes de Porto Alegre, um pintor de paredes tem colocado em prática iniciativas que renderam mais transformações positivas do que muitas medidas adotadas pelo poder público. Com a ajuda das redes sociais para mobilizar a comunidade, Cláudio Roberto Pagno da Costa liderou campanhas que foram da doação de material escolar à pintura das casas da Vila Safira, no bairro Mario Quintana, zona leste da Capital.
A estratégia é simples. Faltam placas nas ruas? Pelo Facebook, Cláudio convoca os moradores a doarem madeira e tinta. A mão de obra é dele e de voluntários. E lá estão as 200 placas penduradas em postes. Estudantes sem caderno, lápis e livros? Um post com um apelo resulta na doação para atender a 2 mil alunos. Recentemente, ele convocou alunos e professores de cinco escolas a promover um revezamento para carregar a “Tocha da Paz”, iniciativa que referenciava o esporte e combatia a violência. Encontrei Cláudio quando ele preparava galões de tinta para o projeto Colorização, que já levou cores mais vivas para as paredes de dezenas de casas e muros da região.
O que te motiva a promover, dentro da tua comunidade, ações que façam diferença na vida das pessoas?
Isso é resultado dos valores que meus pais me passaram, de sempre querer ajudar o próximo. Quando eu e minha família chegamos na Vila Safira, na década de 1980, faltava tudo. Partimos da estaca zero. Cansamos de esperar o poder público fazer alguma coisa. Em vez de ficar reclamando, resolvi agir, tomar a iniciativa para ser protagonista de mudanças.
Para implementar essas iniciativas, você abre mão de tempo na sua atividade profissional?
Sim. É preciso ter dedicação. E não dá para parar. Eu dedico pelo menos quatro horas por dia para o trabalho que faço em redes sociais buscando parceiros, conhecendo apoiadores e divulgando as ações que desenvolvemos aqui.
O que impulsiona e envolve as pessoas nesses trabalhos são as redes sociais?
As redes sociais constituem a melhor maneira de mostrar o trabalho e a transformação que estamos promovendo. Não somos uma ONG. Tudo o que fazemos pela comunidade acontece por causa da mobilização nas redes socais. A Vila Safira tem o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Porto Alegre. Tem muitos problemas, muitos. Nossas ações, aqui, vão desde tentar melhorar a autoestima das pessoas a buscar uma condição de vida melhor. A educação também é fundamental. Nós fazemos até a feira do livro do bairro, e agora a mobilização é pelos kits de material escolar. No ano passado, o trabalho resultou em doação de material para 2 mil estudantes.
Sem essa ajuda, as crianças não teriam nada para ir à escola?
As famílias são numerosas aqui. Sem essa ajuda, teriam muitas dificuldades para colocar e manter seus filhos na escola. As doações servem para complementar alguma coisa que eles já têm. Mas, em alguns casos, a única coisa que os pais conseguem é o que vem da doação. Sabe como é a pobreza, né? Às vezes é um padrinho que dá um caderno, um familiar que manda um livro. Já estamos no sétimo ano da campanha do material escolar. O dia da doação é emocionante. A rua fica cheia de gente, as crianças vêm receber o material com uma felicidade indescritível.
Aonde você quer chegar? Amplificar até onde?
Minha ideia é levar essas iniciativas para outros bairros. Eu visito outras regiões da cidade para estimular isso. Até fora daqui, no Litoral, por exemplo. Esse projeto de colorização está sendo levado para Quintão. Pintamos um prédio que era horrível, bem no centro da praia, e que ficou muito bonito com novas cores. No centro, a cada 10 ruas, oito não tinham placa alguma. Eu mesmo fiz as placas com os nomes das ruas e as fixei nos postes. Mas eu não sou mais, nem menos, sou apenas parte da ação. Gosto de incentivar que os outros façam. Se não tem placa na rua, faz e coloca, não fica esperando. Aqui na Safira, já fizemos mais de 200 placas de rua.
De que forma a pintura das casas muda o ambiente do bairro?
Eleva a autoestima do morador. As casas ficam coloridas, e cor traz alto astral. E tu vês as crianças querendo participar, querendo que pintem as casas delas. Estudos sobre cromoterapia comprovam que as cores ajudam muito no aspecto psicológico. Eu sempre faço uma relação com o circo, que é todo colorido. O palhaço é colorido. Ele transmite alegria. Cor é vida, é alegria. Nós estamos dando vida à Vila Safira. Pintamos casas, muros, o meio-fio... Agora estamos até com pedido de pintura de escolas. As tintas são doadas. E a mão de obra é da comunidade. Tudo de graça.