Não é só com relação à compra de trens que dirigentes da Trensurb terão de dar explicações. A força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) na Operação Lava-Jato investiga possível suborno da construtora Odebrecht a políticos para que a empresa de trens urbanos concluísse a extensão da linha entre São Leopoldo e Novo Hamburgo. Entre os investigados estão dois ex-diretores da Trensurb, Marco Arildo Prates da Cunha e Humberto Kasper — o mesmo que firmou o contrato para aquisição de 15 trens do consórcio Alstom-CAF, que nunca funcionaram a contento. Na época da compra, Kasper era diretor-presidente da estatal. Arildo era diretor-financeiro na época da assinatura do contrato de manutenção dos novos trens.
Conforme o inquérito 4.434 sobre a obra no RS, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) há um ano, a Odebrecht admite ter pago R$ 3,45 milhões a políticos e dirigentes da Trensurb para conseguir destravar a extensão dos trens até Novo Hamburgo. A obra estava parada por enfrentar restrições do Tribunal de Contas da União (TCU). Com ajuda política, teria deslanchado.
Conforme delação premiada de dois ex-dirigentes da Odebrecht, Benedicto Junior e Valter Lana, foi pago R$ 1,49 milhão ao então deputado federal Eliseu Padilha, do MDB, atual ministro da Casa Civil, R$ 734,7 mil ao deputado federal petista Marco Maia, R$ 934,5 mil ao ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, do PT, R$ 260,3 mil a Marco Arildo e R$ 38,7 mil a Humberto Kasper, ambos ex-presidentes da Trensurb, indicados pelo PT. No total, conforme os executivos, a extensão da linha da Trensurb foi alvo de três pedidos de pagamentos de propina entre 2008 e 2009: um de Padilha; um de Maia, Arildo e Kasper; e outro de Paulo Bernardo. Juntos, eles teriam recebido R$ 3,45 milhões da construtora.
Lana disse que ouviu deles a justificativa de que eles tiveram a chance de criar dificuldades ao processo de licitação, mas não o fizeram na época e, por isso, queriam receber uma contrapartida da empresa. Como prova, os dirigentes da Odebrecht apresentaram lista de pagamentos implementados entre os anos de 2009 e 2010 por meio do Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht ("departamento de propina"), sendo os beneficiários identificados no "Drousys (sistema de computação da empreiteira baseado na Suíça).
Quando a ampliação entre São Leopoldo e Novo Hamburgo foi concluída, em 2014, o custo final ficou em R$ 953 milhões, após aditivos contratuais. A ampliação da Trensurb já é alvo de investigação do MPF desde 2011, por suspeita de superfaturamento na obra, cujo início em 2001 tinha um orçamento de R$ 270 milhões. Agora está no radar da Lava-Jato.
Contrapontos
Eliseu Padilha
O ministro informou que não iria se pronunciar sobre o caso.
Marco Maia
"São completamente mentirosas essas informações. Não há absolutamente relação minha de pedido de qualquer ilegalidade para ter qualquer benefício desta ou de qualquer outra empresa que tenha atuado no Rio Grande do Sul ou no país."
Humberto Kasper
Disse que não conhece o assunto e não sabe do que se trata. Por isso, não tem como se pronunciar.
Marco Arildo Prates
Disse que jamais recebeu dinheiro da Odebrecht e aguarda o fim do inquérito.
Paulo Bernardo
A advogada Verônica Sterman, que defende Paulo Bernardo, disse que o cliente nega envolvimento nesses fatos e reitera que nunca solicitou qualquer vantagem indevida para quem quer que seja.