
A frente da presidência da por cinco anos, Humberto Kasper assinou o contrato da compra dos trens em novembro de 2012 e recebeu as composições que começaram a rodar em setembro de 2014. Quatro anos depois, diz que pouco sabe sobre os problemas da frota que ele avalizou a compra.
Kasper também é investigado em inquérito da Lava-Jato que investiga possível suborno da construtora Odebrecht a políticos para que a Trensurb concluísse extensão da linha entre São Leopoldo e Novo Hamburgo.
O senhor se surpreende com tantas falhas nos trens comprados durante sua gestão?
Vou me reservar ao direito de não dar nenhuma opinião técnica porque estou há muito tempo afastado de qualquer acompanhamento desse assunto. Tomei conhecimento que houve problemas e soube que não é só aqui que isso ocorreu, aconteceu em outras cidades também. Me surpreendi porque são duas empresas de renome internacional, parece que uma delas tem apresentado problemas em relação a parte de rolamento em outros lugares.
Em quais outras cidades ocorreram problemas como aqui?
Eu não sei te dizer, não vou entrar nesse detalhe.
Na época que o edital foi lançado, não foram feitas especificações técnicas do que a Trensurb precisava e que pudessem evitar que os trens chegassem com tantas falhas?
Eu acredito que as especificações técnicas feitas pelos funcionários técnicos seguiu os padrões normais de qualquer contrato de trem. O problema escapa hoje do meu conhecimento, porque não estou acompanhando isso.
Mas o senhor ainda trabalha na Trensurb. O que o senhor faz agora?
Trabalho na parte operacional de linha.
Os trens foram comprados por R$ 243 milhões para oferecer conforto e tecnologia ao usuário, mas estão parados há dois anos. Apenas quatro estão funcionando. O senhor acha que fez um mau negócio?
A especificação do trem foi feita para atender essa qualidade que você mencionou e acho que a atual direção está tomando todas as providências cabíveis. São empresas de renome, tem que entregar o que eles venderam. Eu acredito que se as empresas tiverem boa vontade, elas têm condições de resolver.
O negócio foi fechado na sua gestão, já está mais de 90% pago. O senhor não se sente frustrado ou arrependimento por ter comprado trens com tantos problemas?
Arrependimento, não, mas frustração, sim. Afinal, são trens que tem conforto e qualidade, mas tem um problema técnico que não deveria existir. O problema desse tipo é absurdo. Me sinto, como cidadão e funcionário, extremamente frustrado com a falta de consideração dessas empresas com o produto que entregaram.
Sobre a licitação, só se apresentaram a CAF e a Alstom (como consórcio FrotaPoa) como concorrentes? A Kawasaki, que é a fornecedora dos primeiros trens, não se interessou?
Pelo que me lembro, teve outras empresas que visitaram, mas só esse consórcio apresentou proposta na época. Limitamos o preço global a um valor e a maioria das empresas não se interessou por apresentar propostas naquelas condições.
Tem duas investigações envolvendo cartel desse caso, uma do Cade e uma do MPF...
(Kasper interrompe o repórter) Esse assunto eu acompanhei, na época fizeram comparação com aquisições de outras empresas. A conclusão da época é que o nosso preço foi totalmente compatível, inclusive pela quantidade de trens. Foram comprados por bom preço.
Mas aí não é uma questão de preço, é de combinação para concorrer juntas à licitação. O senhor soube que as duas empresas trocaram e-mails combinando como concorreriam?
Não, não soube. Não tenho conhecimento disso.
Era necessário comprar 15 trens? Hoje a operação ocorre com os 25 trens da série 100 e quatro da série 200.
As projeções de quantitativos foram feitas pelos técnicos na época. Aliás, tinha uma projeção significativa de crescimento da demanda. Os detalhes disso foram os técnicos e engenheiros da área que projetaram.
Como está o inquérito que o senhor responde sobre possível suborno da construtora Odebrecht?
Não tenho conhecimento.
O senhor tem, sim.
Não tenho conhecimento de nenhum detalhe.
Como está essa situação. O senhor recebeu doação deles?
O que eu tinha que falar, já falei.
Mas para mim não falaste.
Não tenho nada a falar disso, é um assunto completamente desconhecido da minha parte.
Não quer falar disso?
Não tinha conhecimento de nada daquilo que foi divulgado pela imprensa. Fiquei bastante chocado até.