Três meses é o prazo fixado pelo diretor-presidente do Hospital Sírio-Libanês, Fernando Torelly, para concluir o diagnóstico sobre o Beneficência Portuguesa, de Porto Alegre. O anúncio foi feito nesta quarta-feira (14) durante cerimônia no Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul, que fica ao lado da casa de saúde, no centro da Capital. O parecer será entregue para as secretarias municipal e estadual da Saúde.
De acordo com Torelly, dois técnicos da instituição paulista já iniciaram os trabalhos e uma reunião com o secretário da Saúde de Porto Alegre, Erno Harzheim, foi realizada ainda nesta quarta.
— Nós fomos designados pelo Ministério da Saúde para estar aqui, para fazer um diagnóstico técnico sobre a viabilidade ou não da reabertura do hospital e em quais condições — relata o executivo, ao frisar que existe uma dificuldade adicional por se tratar de um local sem novos pacientes, sem receita e com muitas dívidas.
Conforme o representante do Sírio-Libanês, a ideia é fazer uma varredura no Beneficência, levantando dados técnicos, financeiros, estruturais e sociais.
— (Queremos) identificar qual a origem dessa crise e que alternativas poderemos sugerir para que a casa de saúde possa se reerguer — observa.
Para o secretário estadual da Saúde, João Gabbardo dos Reis, o trabalho do hospital paulista é fundamental.
— Mostra também a boa intenção do Ministério da Saúde — avalia, ao destacar que a consultoria pelo Sírio-Libanês só foi possível através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (SUS) do governo federal.
Para o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Paulo de Argollo Mendes, que lidera a força-tarefa em prol do Beneficência, a ajuda de um hospital de excelência é essencial.
— É um marco e claramente uma vitória nessa luta — avalia.
Conforme Augusto Veit, presidente da casa de saúde, além dessa consultoria, a instituição passa por uma auditoria financeira, que deve ser concluída até o final de março.
— Trabalhamos com um déficit de R$ 60 milhões a R$ 70 milhões, mas só a auditoria vai nos dar certeza sobre o valor da dívida — afirma.
Entenda o caso
O Beneficência passa por uma das piores crises financeiras de sua história. Com 163 anos, a casa de saúde está sem pagar os salários dos funcionários desde meados de 2017. A falta de recursos – gerada pela combinação de diversos fatores entre problemas de gestão, ruptura de contratos e recusa de financiamentos – também impactou nos atendimentos, que reduziram de forma drástica. Com isso, a prefeitura de Porto Alegre rescindiu o contrato mensal de 116 leitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Houve troca na gestão do hospital, com a saída do então diretor-presidente e a posse interina do presidente do Conselho da Associação Portuguesa de Beneficência, mantenedora da casa de saúde. A partir de então, o Simers e demais entidades se mobilizaram em uma força-tarefa para salvar a instituição.
Doações
Além das articulações políticas, da auditoria e da consultoria, a força-tarefa também lançou duas campanhas na qual a comunidade pode ajudar a manter o hospital de portas-abertas. Uma conta bancária foi aberta, no Banrisul, para arrecadar doações, e as lojas Panvel inseriram o Beneficência Portuguesa como opção no Troco Amigo, mantido pela marca.