Tradicional ponto de encontro da Capital, o parque da Redenção ficou mais colorido – e combativo – neste domingo (26). Com direito a glitter, fantasias e bom-humor, uma multidão prestigiou a 21ª Parada Livre de Porto Alegre, evento voltado à causa LGBT que, nesta edição, teve como tema um "berro contra os retrocessos".
A intenção, segundo a organização da festa, foi chamar a atenção para o crescimento da violência contra populações vulneráveis e a expansão de pautas conservadoras, capazes de ameaçar conquistas sociais.
– Esse é um ano de união. Temos nossas diferenças, mas, quando atacam direitos básicos, não tem como a gente não se unir. Não dá para não se revoltar. Isso aqui é mais do que uma festa. O simples fato de irmos para a rua mostrar a cara já faz desse evento um ato político. Os retrocessos estão aí, mas a gente está reagindo – disse Gabriel Galli, coordenador do Grupo Somos, ONG de Porto Alegre cuja missão é trabalhar por uma sociedade plural e democrática por meio da afirmação de direitos.
Do início da tarde até a noite, a iniciativa mesclou ativismo e diversão, com discursos em defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs), apresentações de artistas transformistas, drag queens, drag kings, grupos de dança e músicos, além da tradicional caminhada pelo parque.
No palco, a festa foi comandada por artistas conhecidas na cena LGBT, como as drags Charlene Voluntaire e Cassandra Calabouço e a cantora trans Valéria Houston. Até as mães de algumas delas marcaram presença e inclusive uma representante do Coletivo Mães pela Diversidade no RS falou ao microfone.
Trata-se de um grupo composto por familiares de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, sendo que algumas famílias perderam seus filhos assassinados por conta da homotransfobia. O coletivo começou em São Paulo e se expandiu para 14 Estados. Segundo seus organizadores, o grupo surgiu como um movimento político para lutar pela garantia de direitos civis.
No gramado e em frente ao espelho d'água, pessoas de diferentes idades, orientações sexuais e identidades de gênero acompanharam os shows. Alguns, como a professora de inglês Marcela Wolf Rocha, 22 anos, estiveram no ato pela primeira vez.
– O tema do evento é relevante porque 2017 está sendo um ano muito difícil. Achei importante participar para marcar posição. Na verdade, todo mundo deveria prestigiar, porque esse debate diz respeito a toda a sociedade – ressaltou Marcela, que se define como bissexual.
O encontro também contou, pela primeira vez, com o apoio da Região Escoteira do Rio Grande do Sul. A entidade montou um estande no local e levou maquiagens e brilhos para pintar o arco-íris – símbolo do movimento gay – nos rostos de quem topasse entrar na brincadeira. Um dos objetivos, segundo a coordenadora da equipe de diversidade dos escoteiros, Rebeca Pizzi Rodrigues, foi mostrar que o grupo está sintonizado com as questões da atualidade.
– Nossa equipe nasceu no fim de 2016, porque a gente percebeu que o nosso público é diverso e nós também. Muita gente acha que o escotismo é um movimento quadrado. Quisemos trazer para a parada uma imagem diferente para mostrar que não é nada disso. O movimento dos escoteiros é moderno, é atual – destacou Rebeca.
Nem mesmo os olhares reprovadores de quem foi surpreendido por "todas as formas de amor" na Redenção – e seus personagens multicoloridos e contestadores – mexeram com os brios de gente como o operador de caixa Miguel Carlos Peçaibes Giuseppe Filho, 37 anos. Veterano na parada e homossexual assumido, Giuseppe chamou a atenção por onde passou. Com máscara e capa preta, ele se travestiu de Zorro.
– Venho sempre, desde que tinha 24 anos. Esse é único dia do ano em que o pessoal realmente se liberta, se expressa sem medo. E é melhor assim, né? Chega de preconceito – concluiu Giuseppe.