Porto Alegre foi a primeira cidade do Brasil a ter reconhecida uma relação homoafetiva como união estável. Também foi a segunda, depois de São Paulo, a incluir a parada gay em sua agenda de eventos. O apego dos gaúchos à tradição não impede posições de vanguarda em relação aos direitos da comunidade LGBT. Agora, vem o reconhecimento: a Capital está entre os sete destinos gay-friendly do país, certificados pela Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo).
O Programa de Turismo LGBT será apresentado pela prefeitura nesta quarta-feira, durante a 43ª Expo Internacional de Turismo, promovida pela Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), em São Paulo. Há tempos a Capital vem se preparando para este momento. A Secretaria de Turismo começou os trabalhos ainda em julho, articulando entidades, empresas, grupos e organizações com segmentos importantes do turismo, como o hoteleiro e o gastronômico.
Em uma série de workshops, foram abordadas questões como preconceito e estereótipos na sociedade, assim como as transformações no campo da sexualidade e suas diferentes formas de expressão.
- O que se busca é que Porto Alegre seja uma cidade amigável e receptiva. A comunidade LGBT permanece quase sempre dentro do seu próprio circuito, mas quer explorar mais a cidade. Quer ser bem recebida em qualquer lugar - diz a presidente da Associação Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat GLS), Marta Dalla Chiesa, que ministrou os cursos de capacitação.
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É uma questão de direitos humanos, mas também de business. Enquanto o mercado mundial de turismo cresce 3,8% ao ano, o segmento LGBT avança 10,3%, de acordo com a Organização Mundial do Turismo.
- Existe uma maior disponibilidade de viajar em qualquer época do ano, até porque raramente é preciso se preocupar com as férias dos filhos, por exemplo - aponta o secretário-geral do Nuances - Grupo pela Livre Expressão (primeira ONG do Estado a ter como bandeira a diversidade sexual), Célio Golin.
O Grupo de Trabalho criado pela Secretaria mapeou as potencialidades da Capital e as reuniu em uma espécie de guia turístico virtual. No site portoalegre.travel/lgbt, constam sugestões de roteiros que incluem os principais monumentos da cidade, agenda de eventos, bares e restaurantes, os melhores locais para compras e as opções da noite LGBT. O material está disponível, também, em inglês e espanhol.
- Não estamos inventando nada. A cidade já tem uma comunidade LGBT bem articulada. Nosso papel foi articular todos esses atores, empacotar os serviços e oferecê-los de forma mais organizada, sensibilizando os prestadores de serviços para atender a este público da melhor maneira possível - destaca o secretário de Turismo de Porto Alegre, Luiz Fernando Moraes.
As oficinas de capacitação deram conta de questões delicadas, mas ainda há muito a percorrer. Porto Alegre quer que os gerentes de hotéis não façam cara de estranhamento quando dois homens pedirem um quarto com cama de casal e que qualquer casa noturna aceite como documento a Carteira do Nome Social, utilizada por travestis e transexuais que preferem ser chamados pelo nome com o qual se identificam, e não pelo de batismo.
- O ideal seria que isso não precisasse ser ensinado, mas os preconceitos estão arraigados na sociedade. A longo prazo, queremos ambientes que sejam acolhedores a todas as pessoas, sejam gays ou não - diz Marta, alertando para o fato de que o combate ao preconceito está previsto em lei municipal, cujo descumprimento acarreta multa e até cassação do alvará de funcionamento:
- Não é mais questão de querer. Acolher o cidadão LGBT é lei.
Aí está um dos principais desafios. Uma ativista que não quis se identificar falou a Zero Hora que a Cidade Baixa - uma das regiões destacadas pelo guia - é um bairro gay-friendly, mas onde travestis são agredidos.
- É preciso ficar atento para que o projeto não crie mais exclusões. A diversidade é que faz uma cidade, principalmente uma grande capital - aponta o coordenador de cultura da ONG Somos - Comunicação, Saúde e Sexualidade, Sandro Ka.