Dez meses depois de iniciar seu mandato como vereadora, Fernanda Garcia (PTB) passou se locomover com liberdade pela Câmara Municipal de Guaíba. A primeira vereadora cadeirante da cidade amargou a falta de acessibilidade no prédio até o último dia 7, quando inaugurado o tão reivindicado elevador.
— Agora sim, estou conseguindo legislar, de fato, junto com os colegas — comenta, momentos antes de começar uma sessão.
O elevador instalado liga o estacionamento ao plenário, dois pavimentos acima. A poucos metros dele também fica o gabinete designado à vereadora de 39 anos. Antes da obra — que custou R$ 155 mil e levou 122 dias —, Fernanda trabalhava em um gabinete improvisado no andar térreo, de onde acompanhou as sessões por videoconferência durante cinco meses. Assistia a tudo na tela do computador, com fone nos ouvidos, e, quando apertava o botão para pedir a palavra, sua imagem aparecia em um telão para os outros vereadores.
A solução encontrada para a falta de acessibilidade tinha falhas. Algumas técnicas, como nas vezes que o sinal saiu do ar. Outras, de integração. À distância, Fernanda não sabia o clima da Câmara e tinha dificuldades em encontrar a hora certa de se manifestar. Quando havia alguma reunião, os vereadores precisavam descer três andares para encontrá-la.
Instalar um sistema de videoconferência foi a segunda tentativa de remendar a falta de estrutura. A primeira terminou no hospital. Depois que Fernanda foi eleita, em outubro de 2016, foi adquirido um equipamento conhecido como carro escalador, para poder subir as escadas. Sua felicidade durou 18 dias: em janeiro ainda o equipamento falhou e Fernanda caiu, fraturando o fêmur. Ela precisou ficar cinco meses afastada, de licença médica.
A vereadora vê a instalação do elevador como uma grande conquista, mas não tira a razão dos que criticam: precisava ser eleita uma pessoa com deficiência para se providenciar a acessibilidade na Câmara.
— A Câmara está há mais de 30 anos ali. Quantos vereadores passaram, quantos presidentes passaram, e nada foi feito?
Um projeto de instalação de elevador no imóvel já havia sido feito há uma década. O aparelho até foi comprado, mas segue dentro das caixas. As obras, iniciadas em 2010, foram embargadas em 2013, por suspeita de irregularidades — o Tribunal de Contas do Estado (TCE) emitiu uma medida cautelar pedindo a suspensão do pagamento.
Quando assumiu o cargo, o atual presidente da Casa, Renan Pereira, procurou se informar sobre a situação.
— Vi que o processo não estava andando, e que a obra podia ficar anos embargada — conta.
A solução encontrada foi fazer uma nova obra, em outro extremo do prédio.
Com o elevador, Fernanda, cadeirante em função de um acidente com arma de fogo, destaca que se sente "mais livre", sem precisar do auxílio das suas assistentes em tempo integral:
— Se quero ir no gabinete de algum colega, no plenário, na presidência, eu vou. Estou feliz de poder ter isso na Câmara, que é o meu direito. É o meu local de trabalho. Tenho direito de ir e vir.