É ensinando outras pessoas a consertar sombrinhas e guarda-chuvas quebrados que o professor de Letras e de Filosofia e mestre em Teoria da Literatura José Luiz de Moraes Mattos, 59 anos, do Morro Santana, em Porto Alegre, garante encontrar satisfação.
Defensor do meio ambiente há mais de uma década, José Luiz criou há três anos o projeto Guarda-Chuvas Cidadão, que oferece curso gratuito da atividade uma vez por semana em duas salas cedidas pela Associação dos Amigos do Centro Humanístico Vida, no próprio Centro, na Zona Norte da Capital.
O sábio professor tem na ponta da língua a história dos consertadores de sombrinhas, função iniciada, segundo ele, na Europa do século 18 e trazida para o Brasil no início do século 20, em São Paulo. Mais do que garantir uma renda extra aos alunos - um guarda-chuva consertado pode ser vendido entre R$ 3 e R$ 5 -, José Luiz quer tirar das ruas resíduos que são rejeitados, inclusive, pelos catadores por não ter valor na reciclagem.
Todas as quintas-feiras, entre 9h e 17h, José Luiz deixa de lado as letras e coloca a mão na massa junto com os dez alunos. Parte deles até já aprendeu o ofício, mas não consegue deixar o grupo. Mais do que aprender uma nova função, o projeto une pessoas dispostas a cuidar do meio ambiente.
Meio Ambiente
"Sempre trabalhei com questões ambientais. Me incomodava ver aquele monte de sombrinhas e de guarda-chuvas desperdiçados e descartados nas ruas e nos meio-fios. A maioria deles são feitos do resíduo do resíduo. Nem os catadores querem. Então, sonhei em começar um projeto para tentar minimizar o problema."
Importância
"Fiz um curso em Novo Hamburgo com um senhor que consertava guarda-chuvas, e decidi passar os conhecimentos adiante. Há três anos, surgiu a oportunidade no Centro Humanístico Vida. O projeto tem três objetivos principais: o ambiental, para evitar que vá para a rua ou tirar da rua este material, o social, para ter um grupo com quem conversar e dividir suas ideias e angústias, e o econômico, pois pode gerar renda para eles, como já ocorre com três ex-alunos."
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Corrente
"Começamos com timidez, sem uma sala específica. As pessoas passavam e perguntavam se estávamos vendendo as sombrinhas. Quando explicava, o retorno era 'vou trazer para você todas que eu achar nas ruas'. E isso vem ocorrendo, como uma corrente mesmo. E os guarda-chuvas já não ficam mais nas ruas da Zona Norte. A ideia é a seguinte: se você tem uma sombrinha estragada, nós a consertaremos. Mas é preciso trazer outras duas estragadas ou encontradas na rua."
Projeto
"Tenho o sonho de tornar Porto Alegre a primeira capital brasileira em reciclagem de sombrinhas e guarda-chuvas. Contribuiremos para o meio ambiente se diminuirmos o volume jogado nas ruas. Enviei ao DMLU a ideia de um projeto de curso para os recicladores conveniados à prefeitura. Eu iria aos galpões para ensiná-los a consertar os equipamentos encontrados. Eles poderiam, inclusive, ganhar uma renda extra revendendo os consertados por um preço mais baixo. A prefeitura, porém, jamais me deu um retorno."
Voluntariado
"A sensação de ser voluntário é indescritível. Não ganho um centavo para isso, mas a satisfação que tenho me deixa muito feliz. Temos retorno de crianças, idosos e jovens. Não há dinheiro que pague saber que as pessoas admiram o teu trabalho e receber um muito obrigado com um sorriso."
As dicas do professor
/// Dedique seu tempo livre a criar algo novo.
/// Repasse adiante o seu conhecimento.
/// Pense em ideias que possam contribuir para melhorar o mundo.