Único gaúcho com assento na Esplanada dos Ministérios, o ministro da Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta (PT), foi oficialmente demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta terça-feira (7), 29 dias após ser comunicado pelo chefe que teria de deixar o cargo. Ao trocar Pimenta pelo publicitário Sidônio Palmeira, Lula deseja profissionalizar a comunicação governamental e elevar os índices de popularidade, visando a eleição de 2026.
O ministro deixa o cargo nesta quarta (8) e entra em férias. Seu futuro só será definido no retorno, em nova conversa com Lula. No Planalto, cogita-se que ele pode ser encaixado em outro posto na reforma ministerial que será realizada em fevereiro ou então reassumir o mandato de deputado federal, virando o novo líder do PT na Câmara.
Nos bastidores do palácio, porém, ficou claro que a demissão de Pimenta não é uma antecipação da reforma ministerial, mas uma troca específica para resolver um problema crônico do governo. Em geral, as reuniões de Pimenta com Lula não constam da agenda presidencial, sobretudo pela urgência de alguns temas e de o ministro ser o primeiro a falar com o presidente todas as manhãs. Todavia, a audiência em que o ministro foi dispensado, às 9h30min desta terça-feira, já constava da agenda presidencial desde segunda (6) e era o primeiro compromisso do dia.
Crítica pública e divergência com Janja
Há tempos que o trabalho de Pimenta é alvo de reclamações no entorno do governo. Em 6 de dezembro, contudo, o presidente externou o incômodo publicamente, surpreendendo os ministros pela contundência das críticas. Ao encerrar o seminário do PT, Lula disse que havia equívocos na condução da pasta (veja o vídeo abaixo).
— Há um erro no governo na questão da comunicação, e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame de que a gente não está se comunicando bem. É preciso que, a partir de agora, a gente comece a fazer as coisas do jeito que precisa ser feito porque não serão os nossos adversários que vão falar bem de nós - afirmou Lula.
Na segunda-feira seguinte, 9 de dezembro, Pimenta foi avisado de que perderia o cargo durante reunião com Lula. Ele já havia convencido Sidônio Palmeira a aceitar o posto, mas assentiu a um pedido do futuro ministro para que a troca só ocorresse em 2025, pois tinha uma viagem internacional marcada com a família.
No final do mesmo dia, Lula passou mal no Palácio do Planalto e precisou viajar às pressas a São Paulo para estancar uma hemorragia cerebral. O presidente foi operado na manhã seguinte, e Pimenta gravou um vídeo, exibido à noite no Jornal Nacional, informando o quadro de saúde de Lula.
O ministro pretendia embarcar para a capital paulista e ser o porta-voz do governo durante a internação presidencial, mas foi vetado pela primeira-dama, Janja da Silva. Ao lado de Lula durante todo o tempo no Hospital Sírio Libanês, Janja determinou que só o médico Roberto Kalil falaria sobre a saúde do marido.
A Zero Hora, Pimenta negou a intenção de viajar a São Paulo e o veto de Janja:
— Refuto fortemente esta informação — disse.
O episódio ressaltou no governo as divergências entre Janja e Pimenta, inclusive a rivalidade pela primazia de nomeação de cargos na Secom. À frente da pasta desde o início do governo, Pimenta nunca teve liberdade para indicar todos os subordinados, disputando espaço com Janja e o fotógrafo oficial da Presidência, Ricardo Stuckert.
Entre as pessoas de confiança da primeira-dama no ministério, por exemplo, está a cientista social Brunna Rosa Alfaia. Secretária de Estratégia e Redes, Bruna tem uma das atribuições mais cobiçadas da estrutura: o comando das redes sociais do governo e do presidente.
Trajetória na Secom
Embora seja jornalista profissional formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Pimenta nunca atuou na área. Sua posição na Esplanada se deve mais à lealdade demonstrada ao governo nos mandatos anteriores de Lula e, sobretudo, durante as investidas da Lava-Jato e nos 580 dias que ele passou na prisão, em Curitiba.
No comando da pasta, Pimenta tentou reluzir a imagem do governo levando para a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) jornalistas de renome, como Marcos Uchoa, ex-repórter da Globo, e Leandro Demori, que, no The Intercept Brasil, havia exposto as denúncias de irregularidades na condução da Lava-Jato. No último ano, porém, se acentuaram as críticas de que os bons números da economia não eram percebidos pela população por erros de comunicação.
Pimenta também se desgastou após o Tribunal de Contas da União suspender uma licitação de R$ 197 milhões da Secom por suspeitas de irregularidades.
A demissão de Pimenta cria um problema para o PT gaúcho. No final de outubro, Lula havia dito ao ministro que ele seria candidato a uma das duas vagas ao Senado na eleição de 2026. Sem um assento na Esplanada que sirva de vitrine, Pimenta perde visibilidade, ainda mais após a extinção do Ministério da Reconstrução, pelo qual ficou quatro meses circulando pelo Estado após a enchente de maio. Por enquanto, o único espaço cogitado para Pimenta no primeiro escalão é uma eventual ida para a Secretaria-Geral da Presidência, atualmente comandada por Márcio Macêdo.