Prevista desde o ano passado, a saída do ministro Paulo Pimenta da Secretaria de Comunicação repete um clássico dos governos que estão com problema de popularidade. Em vez de atacar as causas da queda na aprovação, corta-se a cabeça do ministro, do secretário ou do assessor de imprensa.
O presidente Lula já tinha deixado claro, naquele seminário do PT realizado no início de dezembro, que estava insatisfeito com a comunicação do governo. Que gostaria de dar mais entrevistas, de falar mais para emissoras de rádio, de ser o porta-voz do governo para dar maior visibilidade ao que está sendo feito e assim competir com as más notícias.
Vai para o lugar de Pimenta um publicitário — outro clássico. Imagina-se que o problema da queda de popularidade possa ser resolvido com campanhas mais atraentes, profissionais e inovadoras. Sidônio Palmeira, o escolhido, terá sucesso garantido se o governo lhe oferecer os insumos necessários para melhorar a imagem de Lula e dos seus ministros, área por área.
O problema de Pimenta é que sua principal formação é a de militante. Jornalista profissional diplomado, não chegou a fazer carreira na imprensa, porque desde cedo esteve a serviço da política. Primeiro, como assessor do então deputado Marcos Rolim, depois como titular de sucessivos mandatos.
Os embates com a imprensa, a partir de um olhar partidário que vê inimigos na “grande mídia” desde os primórdios do PT, podem ter contribuído para o desgaste em Brasília, mas ninguém teria conseguido elevar a popularidade de Lula nos últimos meses com o dólar em alta, as brigas do presidente com o mercado e as falas fora de lugar do próprio Lula.
O estopim foi a forma como o governo anunciou o pacote de corte de gastos, dando mais ênfase à proposta de isenção do Imposto de Renda dos assalariados até R$ 5 mil, a ser apresentada em 2025, do que às medidas imediatas. Ali o dólar saiu do controle e Lula não ajudou a estancar a sangria.
Não é crível que a ideia de anunciar as duas coisas juntas, como forma de reduzir o impacto dos cortes entre os eleitores, tenha sido decisão isolada de Pimenta. Ele não teria poder para isso. Quem mais participou da decisão, que deixou o ministro Fernando Haddad visivelmente constrangido? Quem retardou o anúncio das medidas, tentando evitar o desgaste?
Quando Lula nomeou Pimenta para comandar o Ministério da Reconstrução, em plena enchente, dizia-se que tinha encontrado uma forma de se livrar do ministro, embora não tenha nomeado substituto. Único gaúcho no primeiro escalão, Pimenta tinha as credenciais necessárias para assumir a missão, até por ser quem no governo melhor conhece o Rio Grande do Sul. O governo liberou bilhões de reais para o Estado, socorreu os gaúchos, executou obras, trouxe todos os ministros para ver o que cabia a cada um, mas nem assim a popularidade no Estado melhorou.
O tempo de vida do ministério extraordinário acabou sem que Pimenta conseguisse terminar o trabalho, porque a medida provisória caducou e o governo não se esforço para aprová-la. Pimenta retornou a Brasília e passou a ser cobrado pelos erros de comunicação — os da alçada dele e também os de outras áreas.
Reza a lenda que o ministro caiu mesmo porque bateu de frente com outros ministros e com a primeira-dama, Janja, que gostaria ela de dar as cartas. Janja está longe de ser a solução para a comunicação do governo, até porque faz parte do problema. Ou só Lula não percebe?
Ainda não se sabe o que fará Pimenta depois das férias. Ele não precisa de emprego. É deputado federal, muito bem votado, e pode reassumir a cadeira na Câmara, onde será um em 513, a menos que lhe seja confiado o cargo de líder do governo.