Após uma série de ocupações feitas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (13), que "não precisa mais invadir terra" no Brasil e pregou que a reforma agrária seja feita de maneira "tranquila e pacífica, sem guerra".
Lula afirmou que cabe ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) fazer o levantamento de terras improdutivas no Brasil. A partir destas informações, o governo pretende fazer os assentamentos necessários para prosseguir com a reforma agrária.
— Eu disse para o Paulo Teixeira (ministro do Desenvolvimento Agrário) esses dias: não precisa mais invadir terra. Se quem faz o levantamento da terra improdutiva é o Incra, o Incra que comunique o governo quais são as propriedades improdutivas que existem em cada Estado brasileiro e, a partir daí, vamos discutir a ocupação dessa terra. É simples, não precisa ter barulho, não precisa ter guerra — defendeu o presidente durante a live "Conversa com o Presidente", transmitida na manhã desta terça-feira nas redes sociais, aos moldes da feita semanalmente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para divulgar medidas do governo.
Lula afirmou ainda que a população brasileira quer uma reforma agrária "tranquila e pacífica".
— É essa reforma agrária que vamos fazer no país. Não tem porque haver lutar, porque haver guerra — disse o presidente.
Abril Vermelho
As ocupações do MST no chamado "Abril Vermelho" criaram desgaste para o governo federal. De um lado, a gestão se viu pressionada a não desagradar o movimento popular, base do Partidos dos Trabalhadores. De outro, precisou lidar com a insatisfação do agronegócio. As ocupações viraram alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados.
Lula e o agro
Ainda nesta terça, Lula afirmou que "nunca teve problema" com o agronegócio e atribuiu possível resistência do setor ao seu governo a divergências ideológicas. O presidente da República trava relação tensa com alguns segmentos do agronegócio, desde que tomou posse neste seu terceiro mandato.
— Governei oito anos esse país. Eles sabem tudo o que fizemos nesse país, eles sabem da responsabilidade com o salto de qualidade que tivemos no agronegócio por causa do financiamento que nós fazíamos. Eles sabem que, do ponto de vista econômico, eles não tem problema conosco, do ponto de vista de financiamento. O problema pode ser ideológico. Se for ideológico, paciência, nós vamos estar em campos ideológicos diferentes — afirmou Lula na live.
— A gente vai caminhando. Vamos anunciar o Plano Safra agora, e eles vão perceber que, da parte do governo, não há nenhuma objeção a eles — reforçou o presidente.
Nas eleições de 2022, o agro apoiou majoritariamente a malsucedida candidatura à reeleição de Bolsonaro.
O presidente voltou a pregar que não há incompatibilidade entre pequenos, médios e grandes produtores e disse que eles precisam viver em harmonia:
— Eu fiz questão de dizer na feira de Pernambuco (na verdade, o discurso foi feito na feira do agronegócio de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia): não há incompatibilidade entre o pequeno e o médio produtor e o grande produtor. Isso está na cabeça de quem não quer pensar direito. O Brasil precisa dos dois, os dois ajudam o Brasil. Precisamos ajudar os dois, e eles têm de viver em paz porque cada um ajuda o outro.
O presidente falou ainda sobre a repartição das atribuições da Conab entre os ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura, feita pelo Congresso Nacional na MP da Reestruturação da Esplanada.
— A gente agora repartiu a Conab com a agricultura familiar e agricultura empresarial. Agente precisa de estoque regulador. Se tiver crise no mundo, a gente precisa garantir de que não vai faltar nem o arroz e nem o feijão para o nosso povo — completou.