No segunda dia da visita ao Rio Grande do Sul, o ex-presidente Jair Bolsonaro classificou nessa sexta-feira (23) como golpe uma eventual condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na véspera, Bolsonaro começou a ser julgado por ataques ao sistema eleitoral na eleição de 2022 e pode ficar inelegível por oito anos.
— É um golpe na democracia, um descrédito da Justiça Eleitoral me tirar os direitos políticos — afirmou, em discurso na Assembleia Legislativa.
Bolsonaro disse cogitar concorrer a vereador no Rio de Janeiro em 2024 e voltar a disputar a Presidência em 2026, quando terá aliados no comando da Justiça Eleitoral.
— Em 2026, se estiver vivo até lá, e também elegível e essa for a vontade do povo, a gente vai e disputa novamente a Presidência. O presidente do TSE em 2026 será o ministro Kássio Nunes, que eu indiquei. O vice- presidente será o terrivelmente evangélico André Mendonça, que eu indiquei. As coisas mudam. Será preocupação com essa mudança que antecipa essa vontade (de torna-lo inelegível)? — especulou.
Em quase uma hora de pronunciamento, Bolsonaro exortou os apoiadores a concorrerem nas eleições de 2024, defendeu sua gestão e criticou ações do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Sem citar nominalmente o presidente Lula, fez uma insinuação homofóbica e, na sequência, mandou o petista à "ponta da praia", local no Rio onde eram desovados os corpos de inimigos do regime militar.
— Tem um cara aí que eu acho que é LGBTQIA+: fala meu nome todo dia (...). O cara fica falando que o agro é fascista, o agro é direitista. Ah, vai pra ponta da praia — afirmou.
Bolsonaro participou do ato de filiação ao PL com a presença de mais de 500 simpatizantes. Diante do público que lotava o Auditório Dante Barone, foi saudado aos gritos de "mito" e dividiu a mesa com parlamentares e dirigentes do PL. Antes dos discursos, foi homenageado com uma trova do tradicionalista Valdomiro Melo, com versos contestando o resultado das eleições de 2022 e o julgamento no TSE.
O auditório foi dividido, com a parte mais próxima do palco ocupada exclusivamente por prefeitos, vereadores e pré-candidatos às eleições municipais de 2024. Na parte de cima, mais distante, ficaram os filiados e simpatizantes.
Ao abrir os pronunciamentos, o presidente do PL no Estado , Giovani Cherini, apresentou a estrutura do partido, que hoje conta com quatro deputados federais, cinco estaduais, 17 prefeitos e 89 vereadores. Para 2024, projetou Cherini, a ambição é eleger cem prefeitos e 500 vereadores. Citando a antiga rixa entre as legendas do bipartidarismo do regime militar, chamou para o PL deputados das duas legendas que foram eleitos apoiando Bolsonaro.
— Aqui no Rio Grande do Sul é sempre MDB e Arena. Nós vamos mudar isso. MDB e Arena estão lá no governo Lula. Se você quer estar na oposição, venha para o PL — convocou.
Durante as filiações, pessoas da plateia subiram ao palco para tirar fotos com Bolsonaro, o que causou uma aglomeração, atrasando o evento e irritando a direção do partido. Cherini suspendeu a sessão de fotos e passou a palavra a Bolsonaro. Duas pessoas passaram mal e precisaram ser retiradas para receber atendimento médico.
Ao final do evento, Bolsonaro se dirigiu a uma churrascaria, onde almoça com políticos e empresários. Em frente ao restaurante, ele cumprimentou apoiadores e voltou a criticar eventual condenação e citar a mudança no comando do TSE.
— Covardia. Sabem que eu volto em 2026. Até porque muita coisa vai mudar até lá, inclusive a composição dos tribunais — afirmou.
Bolsonaro retorna a Brasília no final da tarde.