O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), vetou o pedido dos governadores de assumirem a administração do Simples Nacional e disse a eles que tentativas de mexer no regime especial de tributação podem ameaçar a viabilidade da reforma tributária.
O recado foi dado diretamente aos líderes estaduais em reunião a portas fechadas na última quinta-feira (27). Naquele mesmo dia, à noite, o relator da reforma, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), admitiria que não havia espaço para avançar nessa frente.
— É o mesmo que dar um tiro na testa da reforma. Esqueçam isso, não tem nem possibilidade de a gente tratar desse assunto porque é um tema muito sensível — disse Lira, aos governadores.
— Essa inovação a gente já descarta por aqui.
Na semana passada, secretários estaduais de Fazenda haviam deliberado, por maioria, que a administração do Simples deveria ficar a cargo do conselho federativo a ser criado pela reforma - e que gerenciará o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), novo imposto que unificará o ICMS (estadual) e o ISS (municipal).
Dada a relevância do Simples - são quase 22 milhões de empresas no regime, e, em alguns Estados, elas representam quase a totalidade dos CNPJs -, os secretários dizem que é preciso dar uma "gestão mais técnica" ao modelo, assumindo, inclusive, a responsabilidade de definir os limites de enquadramento.
Teto
Hoje, os tetos são atualizados pelo Congresso e, por isso, calibrados ao sabor da política. O último reajuste ocorreu em 2018, quando o limite subiu de R$ 3,6 milhões para R$ 4,8 milhões de receita bruta por ano. Mas há um projeto de lei que propõe dobrar esse valor.
Para os secretários estaduais de Fazenda, essas atualizações têm impacto na arrecadação de todos os entes da federação, pois empresas de maior porte passam a entrar no regime simplificado e a recolher menos tributos. Por isso, eles entendem que essas decisões devem ser tomadas à luz da análise fiscal.
O assunto foi levado à reunião com Lira pelo presidente do Conselho dos Secretários de Fazenda (Comsefaz), Carlos Eduardo Xavier, que enumerou pedidos dos Estados na reforma, alguns deles ainda em aberto, e que serão objeto de negociação nesta semana.
Na conversa, Lira e Ribeiro, que também participava da reunião, ouviram que a maioria dos Estados prefere uma transição mais curta na mudança da arrecadação do local de produção para o destino do consumo, em vez dos 50 anos previstos por Ribeiro - 26 anos, com a fixação de um seguro contra perdas de arrecadação. E também uma fórmula para a divisão do Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR) - que vai compensar Estados e municípios pelo fim dos incentivos - que leve em consideração o "PIB invertido", ou seja, que regiões mais pobres recebam mais.
Estados dizem que querem salvaguardar comércio
Dias antes do encontro do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do relator da reforma tributária, Aguinaldo Ribeiro, com o representante do Comsefaz, Carlos Eduardo Xavier, governadores do Centro-Oeste e do Espírito Santo disseram a Ribeiro que mexer no Simples era também uma forma de criar salvaguardas ao comércio local. A proposta é estipular que empresas do regime simplificado não podem gerar e usufruir de créditos em operações interestaduais, restringindo o benefício a operações internas.
O intuito, segundo o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), é evitar que grandes varejistas do comércio eletrônico, que servem como pontos de venda online, engulam o varejo local.
Até agora, Ribeiro limitou-se a prometer que o Simples terá o mesmo tratamento diferenciado concedido à Zona Franca. Tributaristas dizem que a proposta de Ribeiro não prevê que as empresas do Simples vão usufruir do benefício da "não cumulatividade plena", que é o espírito da reforma tributária, e delega a decisão para legislação complementar.