O vereador de Nova Santa Rita, Eliel Alves (PRTB), foi absolvido neste domingo (28) de uma acusação de quebra de decoro parlamentar após ter agredido um cinegrafista durante um ato bolsonarista ao lado do Comando Militar do Sul, em Porto Alegre, em janeiro. O placar da sessão na Câmara Municipal não atingiu os dois terços necessários para a cassação, que exigia um mínimo de oito votos a três para a perda do cargo – o resultado foi sete a quatro.
Eliel Alves deu um soco no jornalista Jocemar Silva em 3 de janeiro deste ano após se incomodar com o trabalho de uma equipe da emissora porto-alegrense RDC TV na sede do Comando Militar do Sul, na capital gaúcha, onde manifestantes insatisfeitos com o resultado das eleições presidenciais do ano passado pediam uma intervenção do Exército. Na ocasião, trajado em roupas militares, o vereador de Nova Santa Rita, que é líder comunitário, acertou o rosto do cinegrafista e derrubou sua câmera.
— Foi feita a Justiça, porque não tenho jurisprudência fora da cidade e não me apresentei em Porto Alegre como vereador. Questões além disso precisam ser resolvidas na Vara comum, e não aqui na Câmara legislativa, um fato que não configura quebra de decoro parlamentar — diz Eliel, que está sendo processado civil e criminalmente por Jocemar pela agressão.
O processo foi aberto em fevereiro e teve uma comissão processante de três parlamentares, definida via sorteio – dois deles aliados de Eliel, Odegar Mendes (PRTB) e Gugu da Farmácia (Republicanos). A relatoria ficou a cargo de Mendes, colega de partido do líder comunitário, que recomendou sua absolvição. O documento não foi assinado pela terceira integrante da comissão, Ieda Bilhalva (MDB), que afirmou ter recebido o texto cinco minutos antes do prazo final de sua entrega.
Durante a sessão, a defesa de Eliel alegou que o vereador foi provocado e ofendido pelo jornalista – o que Jocemar nega. O advogado do parlamentar mostrou à Câmara Municipal um vídeo em que o papa Francisco diz que “não se pode provocar os outros” e brinca que, se seu assistente falar mal de sua mãe, pode esperar um soco do pontífice.
“Decepcionante”, diz cinegrafista agredido
Ao longo da sessão na Câmara Municipal, a comissão processante afirmou que não haveria provas de que a agressão teria machucado o jornalista, já que o repórter cinematográfico não quis falar com os vereadores. Jocemar, no entanto, afirma que preferiu não prestar depoimento para evitar novos contatos com o agressor. As testemunhas da comissão, por isso, acabaram sendo apenas pessoas acampadas no ato antidemocrático.
— Me provoca um sentimento ruim só de olhar para esse cara (Eliel), por isso me abstive de ir falar. É uma pessoa que já tem um histórico de violência. O próprio presidente da Câmara já foi hostilizado por ele — diz o cinegrafista, que considerou a absolvição "decepcionante".
Jocemar afirma não ter provocado ninguém no dia da agressão e relata que o vereador partiu para cima dele “do nada” perguntando “quem deu autorização” para permitir a filmagem do ato antidemocrático. O cinegrafista, que estava sentado no porta-malas de um automóvel e segurando sua câmera entre as pernas, diz ter levado o soco após responder que não precisava ser autorizado para filmar em um espaço público.
— Sou repórter cinematográfico há 27 anos. Depois desse fato, fiquei muito abalado, e mudou todo o meu jeito de trabalhar na rua. Na emissora, fazemos links ao vivo. Agora fico tenso porque parece que a qualquer momento alguém vai aparecer para me agredir. Tô sempre em guarda — diz o cinegrafista, que tem 27 anos de carreira em diferentes veículos de comunicação gaúchos.
Na época, a agressão foi repudiada por entidades como a Associação Rio-Grandense de Imprensa (ARI), a Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado (Arfoc/RS) e a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), além dos sindicatos de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors), dos Radialistas do Rio Grande do Sul e dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Porto Alegre (Stigpoa).
Na versão de Alves, antes do soco, o repórter teria agido "de modo autoritário", "alterado" e gritava com as pessoas, de modo que "faltou com o respeito" e "atingiu a dignidade" dos manifestantes, conforme relato do vereador na sessão. Jocemar diz que a agressão foi gravada e que as imagens "falam mais que mil palavras".