A decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que afastou o juiz Eduardo Appio da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba colocou a condução da Lava-Jato, temporariamente, nas mãos da juíza Gabriela Hardt, que já atuou na operação. A magistrada é substituta do juízo da Lava-Jato e já despachou ao lado dos dois antecessores de Appio: Luiz Antônio Bonat, alçado a desembargador da Corte Regional; e Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça e atual senador.
A magistrada inclusive já proferiu o primeiro despacho na Lava-Jato após reassumir a operação. Na manhã desta terça-feira (23), determinou que o Ministério Público Federal (MPF) se manifeste no bojo do processo em que Appio insistiu que a Polícia Federal (PF) apurasse a escuta ilegal encontrada na cela do doleiro Alberto Youssef à época em que ele esteve preso na carceragem da corporação em Curitiba.
Se, desde fevereiro, os processos remanescentes da Lava-Jato eram conduzidos por um juiz declaradamente crítico aos métodos da antiga força-tarefa, agora as ações passam para uma magistrada que proferiu despachos no auge da operação e mantém bom relacionamento com Moro, desde o tempo em que ele era titular da 13ª Vara.
Gabriela chegou a sentenciar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenando o petista a 12 anos e onze meses de prisão no processo do sítio de Atibaia. Posteriormente, a condenação foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ao reconhecer a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro para analisar processos envolvendo o presidente.
Em uma decisão recente, ligada ao ex-juiz da Lava-Jato, Gabriela mandou prender núcleo do PCC que planejava o sequestro de Moro. A juíza acolheu pedido da PF e autorizou a Operação Sequaz – deflagrada no dia 22 de março pela Polícia Federal.
À época, ela estava cobrindo férias da juíza Sandra Regina Soares, titular da 9ª Vara Federal de Curitiba. O fato de a operação ter sido deflagrada por ordem de Gabriela chegou a ser mencionado inclusive pelo presidente Lula, que teve a juíza como um de seus algozes na Lava-Jato.
Os processos da Lava-Jato, no entanto, podem ficar pouco tempo nas mãos de Gabriela e eventualmente serem analisados por outro magistrado. Isso porque ela atualmente participa de um concurso de remoção: seu objetivo primeiro é atuar em outros juízos, fora de Curitiba. O concurso ainda está em trâmite, ou seja, também não há definição sobre a futura atuação da magistrada.
A investigação do TRF-4 sobre Appio não tem data para terminar. Ao determinar o afastamento cautelar do magistrado, o tribunal deu 15 dias para que ele apresente defesa prévia sobre as suspeitas que recaem sobre ele — de suposta ligação com "ameaça" narrada pelo advogado João Malucelli, filho do desembargador Marcelo Malucelli, do TRF-4.