Após a análise das audiências de custódia — realizadas por juízes de vários Estados e analisadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) —, parte dos residentes do Rio Grande do Sul presos por participação em atos golpistas em Brasília foram soltos. Os detidos são investigados pelo envolvimento nos ataques às sedes dos três poderes, em 8 de janeiro. Os liberados serão submetidos a medidas cautelares alternativas.
Desde terça-feira (17) foram analisados casos de 1.075 presos: 740 tiveram a prisão em flagrante convertida em prisão preventiva e 335 pessoas obtiveram liberdade provisória mediante medidas alternativas, como a colocação de tornozeleira eletrônica. A expectativa é que todos as audiências sejam realizadas até esta sexta-feira (20), conforme previsão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Entre os presos liberados estão moradores de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. Do município, pelo menos 13 pessoas foram presas em flagrante. O proprietário de uma oficina mecânica, José Álvaro Vicente, foi solto ainda na terça-feira (10) após análise da audiência. Conforme a defesa, o homem chegou à Praça dos Três Poderes após o vandalismo. O advogado Brizola Filho garante que seu cliente não participou da depredação.
— Ele não queria quebrar nada. Tanto que tem porte e foi desarmado. Se ele quisesse invadir tinha levado a arma, mas foi revistado e estava sem sua arma — ressaltou.
Também morador de Santa Cruz, o empresário Carlos Aimoré Pereira Firpo foi liberado e terá de usar tornozeleira eletrônica. A reportagem buscou contato junto à empresa e familiares, mas não obteve retorno. Da mesma cidade, o engenheiro eletricista Eduardo Weiss, 51 anos, e Noemio Laerte Hochscheidt, 51 anos, serão liberados nesta sexta-feira (20). Jairo Machado Baccin, de Santa Maria, 50 anos, professor de hebraico bíblico, também foi solto nesta quinta. GZH não localizou a defesa.
Até as 22h40min desta quinta-feira, havia sido foi expedido alvará de soltura para Fátima Jecele Magon, moradora de Arroio do Meio. GZH tentou contato com a família, mas não obteve resposta. Diogo Deniz Felix, de Horizontina, também deveria ser liberado ainda nesta noite de quinta-feira; Gilmar dos Santos, de Santa Cruz do Sul; e Glaucia Pimentel, de Venâncio Aires; e Valquiria Mariza Dias Jahnke, de São Pedro do Sul, também receberam o alvará de soltura. A reportagem não localizou as defesas. Carlos Antonio Eifler, funcionário público em Lajeado, tem uma empresa de pequeno porte e também será liberado. GZH entrou em contato com um familiar do empresário, mas a pessoa desligou o telefone assim que a reportagem se apresentou. João Ramão Moraes Diniz, de Porto Alegre, é microempreendedor e já trabalhou como técnico de refrigeração. GZH não localizou a defesa para comentar a soltura.
De acordo com a seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF), os custodiados estão sendo encaminhados ao Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (Cime) para instalação de tornozeleira eletrônica.
Entre os gaúchos que seguem detidos, estão Marisa de Fátima Renner, empresária e moradora de Porto Alegre. A família está acompanhando o caso em Brasília e alega que Fátima não esteve na Praça dos Três Poderes, mas que esteve com uma amiga no acampamento montado no QG do Exército.
De Bento Gonçalves, o empresário César Pagatini teve os bens bloqueados a pedido da Justiça Federal do Distrito Federal. Ele está entre os investigados por financiamento do fretamento de ônibus que seguiram em direção à Brasília para os atos do dia 8 de janeiro. O advogado Brizola Filho nega que seu cliente tenha colaborado para financiar o movimento golpista. A pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), foram bloqueados R$ 6,5 milhões em bens de 52 pessoas e sete empresas.
GZH identificou que entre os envolvidos ainda há moradores de Bagé, Caxias do Sul, Gravataí, Ijuí, Pantano Grande, Passo Fundo, Santa Rosa, Santiago e Torres.
Nesta quinta-feira, a AGU protocolou um pedido para elevar para R$ 18,5 milhões o bloqueio de bens. O acréscimo leva em consideração relatórios da Subchefia para Assuntos Jurídicos da Presidência da República, que estimou danos de R$ 7,9 milhões ao patrimônio do Palácio do Planalto, e do STF, que calcula em R$ 5,9 milhões os danos em seu edifício.
A quantia também engloba valor atualizado dos prejuízos estimados pela Diretoria-Geral da Câmara dos Deputados, que informou danos de R$ 1,1 milhão sem levar em consideração a restauração das obras de arte danificadas e a destruição e subtração de presentes protocolares cujo valor é inestimável.