O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com os governadores no começo da noite desta segunda-feira (9), um dia depois dos atos antidemocráticos em Brasília, no qual foram depredadas as sedes dos três poderes. No encontro, que aconteceu no Palácio do Planalto, ele afirmou que a Polícia Militar do Distrito Federal foi conivente com os golpistas.
— A polícia de Brasília negligenciou. A inteligência de Brasília negligenciou. É fácil vermos nas filmagens os policiais conversando com os agressores. Havia uma conivência explícita da polícia com os manifestantes. Por isso decidimos fazer uma intervenção — afirmou Lula.
O presidente destacou que a investigação dos atos vai focar em chegar aos mandantes dos atos antidemocráticos, citando que eles provavelmente não estiveram presencialmente no domingo.
— Vamos investigar e vamos chegar a quem financiou os atos golpistas — garantiu Lula.
No encontro, que contou com a participação de 27 governadores e autoridades, como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Lula defendeu e ressaltou a confiabilidade da urna eletrônica e o resultado das eleições.
— Se pudesse roubar na urna eletrônica, um metalúrgico não teria sido eleito três vezes — afirmou, referindo-se a si mesmo.
Lula ainda defendeu afirmou que o "país não vai permitir que a democracia escape das mãos" e ressaltou que a sociedade precisa aprender a conviver "democraticamente na diversidade". O presidente criticou duramente os manifestantes que estiveram em frente aos quartéis e disse que eles não têm uma pauta que não o golpe de Estado.
— Estão em frente aos quartéis reivindicando o quê? Melhoria na qualidade de vida? Aumento de salário? Construção de habitação? Não. Estão reivindicando golpe.
Antes que Lula se manifestasse, ficou definido que um governador falaria por cada região do país. O governador Eduardo Leite se manifestou, representando o Sul, e prestou solidariedade aos poderes atingidos. Também afirmou que esses atos devem ser combatidos de maneira "enérgica".
— Temos gabinete de crise estabelecido por decreto, reunindo todos os órgãos de segurança, no sentido de atuarmos de forma coordenada para fazer a identificação de todos aqueles que atacam as nossas instituições — informou Leite, explicando que haverá reunião do grupo nesta terça-feira (10).
Ainda na noite de domingo, o governador do RS havia anunciado que enviaria 73 policiais do Choque da Brigada Militar para atuar em Brasília, para evitar que aconteçam novos atos antidemocráticos. Outros Estados do país também anunciaram reforço para o policiamento na capital federal.
Na tarde de domingo (8), bolsonaristas invadiram o Congresso Nacional e na sequência entraram à força no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF). Cerca de 1,5 mil pessoas já haviam sido presas por suspeita de envolvimento nos atos golpistas nesta segunda, segundo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino.
— Temos investigações em curso que resultarão em novos pedidos de prisão preventiva e temporária para aqueles que financiaram os atos golpistas , mas que não mostram suas faces nos locais públicos — afirmou Dino.
Manifestações dos poderes
Também presente na reunião, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, se manifestou, lamentando os atos golpistas. A sede da Corte foi um dos alvos na tarde de domingo.
— O STF foi duramente atacado e nosso prédio foi praticamente destruído. Essa simbologia me entristece de uma maneira enorme. Mas quero assegurar a todos que vamos reconstruí-lo — afirmou Weber.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, afirmou que a votação para aprovar o decreto que institui a intervenção federal em Brasília aconteceria ainda na noite de segunda-feira.
— O símbolos sofreram um ataque terrível. A Câmara dos Deputados sempre estará aberta ao povo brasileiro e não se renderá aos terroristas — garantiu Lira.
O presidente do Senado em exercício, Veneziano Vital do Rêgo, afirmou que não se pode deixar de punir "quem ousa atentar contra as nossas instituições e contra a nossa democracia".
— Ontem (domingo) tivemos um capítulo que não devemos esquecer, para permanecermos em vigilância.
O presidente do Senado Rodrigo Pacheco estava em férias, fora do país, quando aconteceram os atos. Ele deve chegar no Brasil durante a madrugada desta segunda. Segundo Vital do Rêgo, o decreto deve ser votado no Senado na terça-feira, após apreciação na Câmara.
— O Senado Federal estará se reunindo amanhã mesmo sem portas. Nós não nos ajoelharemos — afirmou Vital do Rêgo.