Com quase 300 nomes já anunciados por Geraldo Alckmin (PSB), coordenador da transição entre o governo de Jair Bolsonaro (PL) e o do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), há perfis de diversos matizes ideológicos, trajetórias pessoais bastante distintas e curiosidades que pouco ou nada têm a ver com a capacidade técnica da equipe.
Desde 4 de novembro, início formal do processo de transição conduzido pelo vice-presidente eleito, os anúncios incluíram a criação de 31 grupos técnicos, duas baixas (a recusa de David Uip no grupo de trabalho da Saúde e a renúncia de Guido Mantega no Planejamento) e, para comoção do país, a perda de Isabel Salgado, ícone do vôlei, escalada para o time de Esportes na última segunda-feira (14).
As homenagens à atleta — tanto de Lula, que participava da COP27, no Egito, quanto da cúpula petista — marcaram o último anúncio de Alckmin sobre membros da equipe, que ainda enfrenta indefinições, como, por exemplo, quem vai conduzir o diálogo com as Forças Armadas.
Não faltam polêmicas ou divergências de ideias, até mesmo em relação a Lula dentro da numerosa equipe. Foi o caso, na quinta-feira (17), do ex-deputado Wadih Damous (PT-RJ) e do senador eleito pelo Maranhão, Flávio Dino (PSB), que defenderam tese distinta daquela debatida pelo presidente eleito durante a campanha: desmembrar o atual Ministério da Justiça e Segurança Pública em duas pastas. Segundo Damous, seria um "equívoco" recriar o Ministério da Segurança.
Conheça esta e outras curiosidades sobre alguns integrantes da equipe de transição.
Wadih Damous — grupo de Justiça e Segurança Pública
Ex-deputado petista defendeu fechamento do STF
O ex-deputado Wadih Damous já foi um crítico contumaz do Supremo Tribunal Federal (STF) e defendeu o fechamento da Corte, em 2018, quando a Justiça determinou a prisão de Lula no âmbito da operação Lava-Jato e o ex-prefeito Fernando Haddad substituiu o ex-presidente na disputa pela sucessão ao Palácio do Planalto.
Damous propôs a criação de uma Corte constitucional e definiu Luís Roberto Barroso como o "pior ministro" da Casa.
— Ou nós enquadramos essa turma ou essa turma vai enquadrar de vez a democracia brasileira — disse à época.
Barroso — que comandou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em meio aos ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas e à votação sobre a retomada do voto impresso na Câmara dos Deputados — assumirá o comando do STF a partir de outubro de 2023.
Cristovam Buarque — grupo de Relações Exteriores
Demitido por telefone, se reconcilia com PT depois de votar pelo impeachment de Dilma
Demitido do ministério da Educação (MEC) por telefone enquanto estava de férias em Portugal, em 2004, Cristovam Buarque volta a ter ligação com o PT anos depois de ter participado da oposição ao partido e votado pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.
Buarque declarou voto em Lula ainda no primeiro turno e agora compõe o grupo de transição de Relações Exteriores.
Ludhmila Hajjar — grupo de Saúde
A cardiologista que quase foi ministra de Bolsonaro
Membro do grupo de Saúde e conhecida como "médica de famosos", a cardiologista Ludhmila Hajjar recusou um convite para ser ministra da Saúde durante a pandemia de covid-19, em março de 2021.
Ela chegou a se reunir com Bolsonaro e alegou falta de "convergência técnica" com o presidente sobre medidas de combate à pandemia. A médica disse ter sido alvo de ameaças de morte e de uma tentativa de invasão a um quarto de hotel pouco depois de ter seu nome especulado.
Glaucius Oliva — grupo de Ciência e Tecnologia
Preterido pelo ex-partido de Alckmin na USP
O físico Glaucius Oliva, integrante do grupo de trabalho de Ciência e Tecnologia, foi apresentado erroneamente pela assessoria da equipe de transição como ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP). Na verdade, ele foi eleito à frente da lista de indicados, mas acabou preterido pelo então governador tucano e não chegou a comandar a universidade.
No cargo de diretor do departamento de Física, Oliva foi o candidato mais votado pela comunidade acadêmica, em 2009. À época, o governador José Serra (PSDB), entretanto, escolheu o então diretor da Faculdade de Direito, João Grandino Rodas, para assumir o cargo.
Romênio Pereira — grupo de Relações Exteriores
Ex-secretário de Relações Internacionais do PT e defensor do processo de transformação chavista na Venezuela
Ex-secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira endossou o processo eleitoral em países que não tiveram a votação presidencial reconhecida pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Ele agora compõe a transição na área de Relações Exteriores.
No secretariado, Pereira parabenizou a reeleição de Daniel Ortega, comandante nicaraguense, e disse que a eleição na Venezuela em 2020 foi uma "resposta democrática aos golpistas que conspiram, dentro e fora do país, contra o governo constitucional e o processo de transformação iniciado pelo ex-presidente Hugo Chávez".