A retomada das negociações entre os partidos de esquerda e centro-esquerda para a formação de uma candidatura única ao Palácio Piratini, palanque de Lula na eleição presidencial, deixou boa impressão entre os dirigentes que sentaram à mesa nesta quarta-feira (15), embora as dificuldades para uma aliança sejam reconhecidas.
As pré-candidaturas de Edegar Pretto (PT) e de Beto Albuquerque (PSB) ao governo estadual foram reafirmadas, mas houve acordo em fazer nova reunião na próxima semana para estabelecer critérios que apontem quem é o candidato com melhor potencial para representar a eventual unidade.
Desde antes da última passagem de Lula pelo Rio Grande do Sul, em 1º e 2 de junho, o diálogo entre a federação PT/PCdoB/PV e o PSB estava rompido e o clima era de distanciamento. Lula, na visita ao Estado, foi insistente nos pedidos públicos de acordo por unidade. Por isso, o entendimento dos dirigentes que participaram é de que ter uma retomada em ambiente amigável já é uma notícia auspiciosa.
Como um gesto de boa vontade, a reunião foi realizada na sede do PSB, no Centro de Porto Alegre, para prestigiar a sigla que estava ensaiando transformar a candidatura de Beto em palanque para o presidenciável Ciro Gomes (PDT) no Estado. Dias atrás, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, alertou que o diretório gaúcho da sigla poderia ter cortado o acesso ao fundo eleitoral caso não tentasse a unidade da esquerda. O PSB, na corrida nacional, indicou Geraldo Alckmin como vice na chapa de Lula.
— Estamos dispostos a envidar todos os esforços para construirmos a unidade no Rio Grande do Sul. Temos dois nomes e vamos tentar consenso em torno de um. Vamos traçar o perfil dessa unidade e ver qual candidato tem melhor condição de representar. Se não houver consenso aqui, acredito que a decisão vai passar para a direção nacional dos partidos — afirmou Mário Bruck, presidente estadual do PSB e anfitrião do encontro.
A dificuldade para fazer o desenlace é vislumbrar quem vai ceder na sua convicção. O PT avalia que é o maior e mais estruturado partido do campo político. Além disso, a leitura petista é de que Pretto teria mais capacidade de ser catapultado pela popularidade de Lula, por serem da mesma legenda.
Já o PSB argumenta que Beto tem maior potencial de voto na urna e mais possibilidade de buscar eleitores e alianças ao centro, em eventual segundo turno. A legenda já avisou que Beto somente concorrerá se for a governador, descartando as opções de vice ou Senado.
— Todos defenderam os seus candidatos com argumentos sólidos, mas ninguém teve postura impositiva. Temos de construir critérios para ajustar a tentativa de unificação. Pesquisa eleitoral pode ser um desses critérios, mas não o único — avalia Juliano Roso, presidente estadual do PCdoB, que definiu como principal saldo do encontro o “restabelecimento do diálogo”.
O nome da ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) foi tema de parte da reunião. Diante do impasse entre PT e PSB, lideranças nacionais petistas sugeriram recentemente, nos bastidores, que Manuela fosse candidata a governadora do campo da esquerda, sendo o palanque único de Lula. Manuela já havia se retirado da disputa ao Senado por questões pessoais e, principalmente, pelo cenário de fragmentação da esquerda.
— Tratei de dizer que a Manuela tem compromisso com a candidatura do Edegar. Ela tem gratidão pelo fato de o PT ter apoiado a candidatura dela a prefeita em 2020. A Manuela manifesta apoio ao Edegar — comentou Roso.
O posicionamento do PCdoB em favor de Pretto é esperado porque a sigla está unida em federação com o PT e o PV. Além disso, são partidos que estiveram mais próximos nos últimos anos. Pela lógica de Manuela, Beto comporia a chapa como candidato ao Senado. Mas, caso haja a compreensão de que Beto deve liderar o grupo ao Piratini, o PCdoB não tenderia a ser empecilho ao jogo. O impasse reside, de fato, entre PT e PSB.
Entre as esquerdas, o temor é de que Pretto e Beto saiam candidatos juntos, repartam os votos deste filão da sociedade, e fiquem ambos de fora do segundo turno. Isso já ocorreu em 2018 e a repetição disso seria prejudicial à campanha de Lula. Como uma das últimas tentativas para resolver o impasse, é cogitado até mesmo levar Pretto e Beto ao encontro de Lula e Alckmin, para uma reunião pessoal.
— Teria de avaliar a disposição do Beto em fazer essa conversa. O Edegar iria. Se isso ajudar, é uma boa sugestão — diz Carlos Pestana, secretário-geral do PT gaúcho.
Na linha dos demais dirigentes, Pestana avalia que o encontro foi uma retomada positiva e que houve clareza da relevância de construir candidatura única.
O PSOL, que vai apoiar Lula na eleição presidencial, também é requisitado no Rio Grande do Sul a participar da tentativa de unidade. Contudo, a sigla se ausentou da conversa desta quarta-feira porque deliberou que o diálogo com o PSB é politicamente inviável. A decisão de não sentar à mesa é acompanhada pelo argumento de que o PSB integrou os governos de José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB). Desta forma, o PSOL segue com a pré-candidatura de Pedro Ruas ao Piratini, outro flanco de divisão dos votos da esquerda.