As próximas duas semanas serão decisivas para o esforço do PT de evitar a divisão da esquerda no Rio Grande do Sul, que hoje tem três candidatos a governador alinhados com o ex-presidente Lula: Beto Albuquerque (PSB), Edegar Pretto (PT) e Pedro Ruas (PSOL). O sinal de alerta se acendeu no partido com a eleição na França, onde a divisão deixou a esquerda fora do segundo turno.
— Não podemos repetir aqui o que ocorreu na França com Jean-Luc Mélenchon, que ficou fora do segundo turno com uma diferença mínima para Marine Le Pen — compara o deputado Henrique Fontana, que sugere uma conversa de Lula com os três pretendentes ao Piratini para a formação de chapa única.
No primeiro turno da eleição francesa, o presidente Emmanuel Macron, de centro, conquistou 9,7 milhões de votos (27,8%). Le Pen fez 8,13 milhões (23,15%) e Mélenchon, 7,14 milhões (21,95%). No segundo turno, a esquerda optou por Macron para evitar a vitória da extrema direita.
A ofensiva inclui convencer o PSOL a seguir o exemplo de Guilherme Boulos, que desistiu de concorrer ao governo de São Paulo, apoiará Fernando Haddad (PT) e disputará uma cadeira de deputado federal. Antes de conversar com Ruas será preciso resolver o impasse entre o próprio PT e o PSB, que lançaram Pretto e Beto. O PT não quer abrir mão da cabeça de chapa porque considera natural liderar o projeto pela história (governou o Estado duas vezes) e pelo tamanho (é maior que o PSB sob todos os pontos de vista). Beto, de sua parte, está em campanha e considera legítimo que o PT abra mão, já que terá Geraldo Alckmin (PSB) como vice de Lula.
Ruas diz que é pré-candidato e que quem decide é o partido, mas não considera adequada a comparação com Boulos, porque as correntes do PSOL são diferentes nos Estados. De fato, em São Paulo predomina corrente de Boulos, o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), favorável desde o início à aliança com o PT. No Rio Grande do Sul, a hegemonia é do Movimento Esquerda Socialista (MES), costela do PT que deu origem ao PSOL e à qual pertencem Ruas, a deputada estadual Luciana Genro, a deputada Fernanda Melchionna e o vereador Roberto Robaina, pré-candidato ao Senado.
Na comparação com a França, faltou ao PT lembrar que a direita está dividida entre as candidaturas de Onyx Lorenzoni (PL) e Luis Carlos Heinze (PP). E quem seria o “Macron” do centro? Líderes petistas acreditam que é o governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) ou quem venha a ser indicado para representar o projeto de Eduardo Leite.
ALIÁS
Forçar a unificação de chapas no primeiro turno tem duas contraindicações: a falta de alguém do mesmo lado para levantar a bola nos debates e fustigar os adversários e o risco de chegar ao segundo turno e não ter com quem compor, como ocorreu com Antônio Britto em 1998.
Fontana não será candidato à reeleição
Depois de seis mandatos consecutivos de deputado federal, Henrique Fontana (PT), 63 anos, decidiu afrouxar o nó da gravata e não concorrerá à reeleição em outubro.
— São trinta anos de mandatos eletivos. Entendi que havia terminado um ciclo e que posso continuar fazendo política sem cargo público — disse Fontana à coluna.
Fontana comunicou a decisão a seu grupo político e decidiu apoiar o ex-prefeito de Rio Grande Alexandre Lindenmeyer como candidato a deputado federal.
Os estaduais Zé Nunes e Stela Farias optaram por disputar a reeleição.