Diante da tensão recente entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e as Forças Armadas sobre a eleição deste ano, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), voltou a defender o sistema eleitoral brasileiro. Desta vez, nos Estados Unidos, onde cumpre agenda desde a última sexta-feira (6). Em evento do BTG Pactual, o deputado também disse que o centro político tem papel de equilibrar os "extremos".
— A polarização vai se dar, como se deu no mundo todo, no momento específico da eleição. O povo vai escolher, sem o eufemismo de dizer que aquela urna presta, que aquela urna não presta — afirmou o presidente da Câmara. — Eu fui eleito nesse sistema durante seis eleições e não posso dizer que esse sistema não funciona. O sistema é confiável. Precisa de ajustes? Precisa. Mas é importante que nós tenhamos tranquilidade política no pleito, e teremos.
À plateia de investidores, Lira disse que as instituições brasileiras são "fortíssimas" e "funcionam plenamente".
— O centro tem feito essa moderação nacional e tem tido uma responsabilidade muito forte no equilíbrio dos extremos em Brasília, na polarização política — declarou.
Lira também afirmou que o país luta para que os poderes "fiquem restritos as suas esferas institucionais", o que, na visão dele, propicia que o Brasil funcione como uma democracia estável.
Nesta segunda-feira (9), o TSE respondeu oficialmente ao ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, e rebateu item a item as sugestões das Forças Armadas para supostamente aperfeiçoar o sistema eleitoral brasileiro. No documento, que reitera a segurança das urnas eletrônicas, o tribunal diz que não há "sala escura" de apuração dos votos, como afirmado pelo presidente Jair Bolsonaro ao sugerir uma contabilização paralela controlada pelos militares.
Legislação ambiental
Arthur Lira exaltou a legislação ambiental brasileira. Ele também criticou a indexação do orçamento brasileiro e afirmou que faltam recursos para combater o desmatamento.
— Nosso principal problema no Brasil é um orçamento 96% vinculado e indexado — disse o presidente da Câmara. — Se nós tivéssemos o orçamento desvinculado e desindexado, o Brasil teria como tratar com muito mais profundidade o movimento do desmatamento ilegal, que é o que nos machuca mundialmente.
O aumento do desmatamento da Amazônia durante o governo Bolsonaro é alvo de críticas no Exterior e um dos principais entraves, por exemplo, para a finalização do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia — países como a França se recusam a ratificar o pacto sem contrapartidas na área ambiental.
— Temos a melhor legislação ambiental do mundo. Não existe um país do mundo que tenha um código florestal como o brasileiro. Nós temos uma preservação ambiental em mais de 66% do território nacional, em florestas públicas, em florestas privadas, em reservas indígenas — disse o presidente da Câmara.
Inflação
No evento, Lira lamentou que o "problema inflacionário" tenha chegado ao país em ano eleitoral. O deputado avaliou que a alta da inflação é um problema mundial que resulta da pandemia e da guerra na Ucrânia.
O aumento da inflação, principalmente de alimentos e de combustíveis, é um dos fatores que mais tem preocupado o comitê de campanha do presidente Bolsonaro, e Lira já declarou apoio público à reeleição do atual chefe do Executivo. Nos últimos dias, o deputado passou a defender um projeto de lei que suspende aumentos nas tarifas de energia elétrica autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em diversos Estados.
— O problema inflacionário hoje, que não é só do Brasil, que infelizmente chega ao Brasil num ano de eleição, porque aí vai aumentar a temperatura da polarização, é um problema mundial, advindo da pandemia, de um processo natural, talvez, de desglobalização, em que os preços sofrerão impacto maior, porque as cadeias (de produção) terão de se reorganizar, e de um processo de crise de energia, pela guerra Rússia-Ucrânia — afirmou o presidente da Câmara à plateia de investidores.
Apesar de dizer que o país enfrenta ainda os efeitos da pandemia no ambiente econômico, Lira exaltou a vacinação contra a covid-19.
— O governo, institucionalmente, entregou vacina gratuita para todos os brasileiros. O Brasil gosta e tem a tradição de vacinar — disse, ao ressaltar que a imunização da população ocorreu mesmo com as "polarizações existentes".